(Quando da ingratidão e injustiça por parte de companheiros)

Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Se vives para o ideal, e alguém chega ao despautério de suspeitar de teu caráter, não te preocupes em apresentar justificativas ou dissuadi-lo de seus pontos de vista. Cada um vê o que tem em si, e tem o direito de assim se portar – mesmo porque é automático, no psiquismo humano, o processo de projeção psicológica.

Foste sempre um bom e muito útil amigo, mas, com a postura desassisada, o companheiro prefere outras companhias. Observa, todavia, que tal conjuntura, que pareceria, em primeiro exame, prejudicar-te, constitui uma perda para a outra parte, enquanto representa um ganho para ti, visto que poderás dar maior atenção a outros corações, mais afinados contigo, que te são bem mais compensadores.

Considera, por outro lado, que, quanto mais profunda e apropriadamente representas a Luz, mais as trevas se incomodam. Destarte, ironicamente, o amigo que se sente lesado, após tanto ter sido abençoado e ajudado, é hipnotizado (por agentes tenebrosos, insuspeitados por ele) a distorcer a percepção dos fatos e a interpretar indevidamente situações ambíguas, para que se volte contra tua pessoa e ele mesmo perca a oportunidade de se beneficiar com tua presença e os inúmeros serviços que lhe poderias prestar. Em vez de dar a atenção que deveria à misteriosa (embora branda) amargura que lhe toma a consciência, envolve-se o pobre companheiro em um emaranhado de pensamentos e raciocínios confusos, com que pugna por justificar e “provar” sua tese, sem se atinar, nem de longe, para as artimanhas sutilíssimas do sofisma e da falácia, empregadas por seus inimigos desencarnados, que o enredam, macabramente, por dentro da própria alma, como um inseto aprisionado na teia de uma aranha, que se debate, atordoado, sem compreender claramente o que se passa consigo, à medida que a predadora caminha, sinistramente, em sua direção.

Tens o coração bom, e te sentes compelido, ainda que sob o cutelo da injustiça, a te apiedares da sina dele. Mas, apesar de louvável tua postura íntima, não permitas que tua generosidade degringole em assimilação da culpa e da dor dos outros. Tentaste ajudar, mas não insistas. Obedeceste ao impulso fraterno e caridoso da reconciliação, já que sabias, de antemão, que o outro lado, movido de orgulho, jamais tomaria a iniciativa. E recebeste, novamente, mesmo assim, a lama de acusações descabidas, em cheio, no coração sinceramente aberto. É momento de respeitar o direito de o outro fazer uso de seu discernimento como bem entenda, mesmo que em prejuízo próprio. A Divina Providência permite que haja o mal na Terra, para que as criaturas aprendam a fazer escolhas justas e benevolentes, pela experiência adquirida em opções inadequadas.

Nossa orientação prática para esta contingência: proibimos-te qualquer iniciativa que favoreça a alimentação de condutas ofensivas, por parte de quem quer que seja. Proteger-se da malícia ou da incúria alheias é também dever espiritual. Lembra-te de que o mandamento “amar ao próximo” tem, como baliza-mestra, o axioma: “como a si mesmo”. Tua atitude, ante o quadro de injustiça, quando a dúvida moral chega a esse nível de descalabro, deve ser a do silêncio. Jesus silenciou, no alto da cruz, abandonado, na dor suprema do Gólgota, pelos mais chegados companheiros de trabalho… aqueles mesmos que mais graças d’Ele haviam recebido!

Sê feliz, amigo, no contexto de tua circunstância. Nem faz idéia de como o paraíso te renteia os calcanhares d’alma, pois que, se tudo deste de ti, no correr de anos, e recebes, em retribuição, o fel da ingratidão, seguindo, a despeito disso, inalteravelmente, em teu trabalho de amor ao próximo, sintonizas-te com Aqueles que, de Altiplanos Inabordáveis da Esfera Sublime, aguardam-te e sustentam-te os passos de homem de bem.

O Céu, porém, te rodeia, já desde este instante, nas mil graças que a vida te concede. Abre os olhos, observa em teu derredor, e notarás facilmente. O afeto e a amizade vêm sempre melhores, para os que permanecem na sintonia do amor, mesmo quando ainda asilados neste mundo de provas.

(Texto recebido em 10 de setembro de 2007. Revisão de Delano Mothé.)

(*) Nem sempre conheço o destinatário dessas mensagens que parecem ter tom pessoal. Às vezes, trata-se de um recurso literário de que os mestres desencarnados lançam mão, para que uma certa lição seja transmitida de modo mais persuasivo e/ou didático. Com segurança, porém, existe uma finalidade construtiva para miríades de corações, ou não seriam publicadas por ordem deles. Esta mensagem se me afigura inserta nesta ambígua e interessante categoria.
(Nota do Médium)