Benjamin Teixeira
pelo espírito
Gustavo Henrique.

Há uma disciplina que deseja começar ou recomeçar e não consegue levar adiante?

Não se entristeça. Tente simplificar o processo, reduzindo-o aos menores itens, e, encontrados os elementos fundamentais ao sucesso, não volte atrás na aplicação dos mesmos, alguns, inclusive, como mecanismos de segurança, impedindo-o de fugir da disciplina:

1. Comece logo, agora. Impeli-lo a esperar para depois é o jogo das trevas da procrastinação, com o fito de impedir-lhe quanto possível a efetivação do projeto.

2. Comece com pouco. A ideia de não poder fazer tudo que gostaria pode desanimá-lo, e é isso que querem – que continue sem motivação para fazer. Então, em vez de logo visualizar uma iniciativa revolucionária, transformadora, pense em pequenas medidas de mudança, mas que possam ser imediatamente implementadas no seu dia-a-dia. Lembre-se do princípio: “mudança duradoura é mudança sustentável”.

3. Não pare. Às vezes, no afã de fazer perfeito, muita gente pára uma disciplina, por não se ver muito entusiasmada com seu andamento. Isso é uma enorme bobagem. Continue em seu esforço de realizar sua disciplina, ainda que com pouco empenho ou com interrupções no esforço. Os atletas não surgem da noite para o dia e nem todo mundo é gênio emocional para viver cheio de euforia com processos difíceis de contenção e canalização de impulsos.

4. Se cair, levante-se imediatamente. Não se deprima com os fracassos. Eles não apenas podem acontecer: vão acontecer. Mas isso não é motivo para que se lance no abismo. Percebendo-se em erro, suave e serenamente, retorne ao plano diretor inicial, como se nada houvesse acontecido, fazendo até ajustes na disciplina, caso perceba uma falha com essa queda, mas jamais fique se punindo com outras quedas maiores, como o rapaz que quer ler mais, e já que não conseguiu ler uma semana ininterruptamente, não lê durante o resto do ano, ou a moça que quebrou a dieta em um dia, e passo o resto do mês comendo compulsivamente.

5. Não se afaste do plano diretor. “Só essa vezinha”, “Amanhã eu volto de novo”, “Não preciso ser tão radical” – são alguns dos pensamentos mais recorrentes em matéria de aplicação de uma disciplina. Muito embora tenhamos proposto o princípio de levantar-se tantas vezes quantas haja caído, não se deve facilitar esse tipo de procedimento auto-sabotador, já que o propósito é disciplina e não desgoverno. Assim, tanto quanto possível, já que as disciplinas costumam acontecer em áreas da fraqueza do indivíduo, seja radical no seguimento delas. Muitas vozes lhe dirão que está sendo duro demais consigo: “Mas é só hoje, no aniversário da mamãe.” Nada impede de ler, fazer uma caminhada, ou perseverar em uma dieta, fazer meditação ou orar detidamente, no dia do aniversário da mamãe ou no réveillon. Se fosse uma área que lhe propiciasse facilidades, você nem sequer se preocuparia em se disciplinar. Portanto, se lembre: área de disciplina é área de esforço e trabalho constantes. Não relaxe, ou os vermes do desânimo proliferarão precipites, e os condicionamentos dominantes, ainda muito presentes nos automatismos de sua psique, imediatamente reassumirão o controle de sua casa mental, fazendo-o voltar à estaca zero, nesse empenho transformacional.

6. Ore. Ninguém consegue realizar uma transformação profunda, substancial, sem ajuda do Alto. A mente é um organismo vivo, super-complexo, assim como o próprio corpo, cheio de condicionamentos metabólicos, inclusive emocionais, em intrincados mecanismos bio-químicos promotores de bem estar e desgosto, numa ciranda fabulosa de neurotransmissores e hormônios. Sem apelar para a Força de Deus, é praticamente impossível fazer uma realização desse porte. Então, ao seu modo, como mais lhe agradar, invoque a Divina Providência, e Ela lhe não faltará.

Concordou? Bem, então, após essa leitura, dedique alguns rápidos minutos a rabiscar seu plano disciplinar, acompanhando cada item anterior, e, por fim, imediatamente se declarando em estado disciplinar. Qualquer desculpa, por mais inteligente e concreta, para não fazer isso agora, indica a presença de mais uma mecanismo de fuga, fazendo-o evadir-se do que deve fazer e propelindo à protelação indefinida do inadiável para você. Por que se leu e concordou, como não rabiscar, de imediato, o projeto disciplinar? Se houve tempo para a leitura desse artigo, por que não haveria para grafar algumas garatujas para si mesmo? O que será tão urgente, que não possa esperar alguns minutos? O que é mais importante que você efetivar um império sobre si mesmo, num ponto de fraqueza que ainda porte?

E, por fim, iniciado o empenho, não saia dele, até que, racional, conscientemente (e não em momentos de tentação), tenha percebido falhas nele; ou, por outro lado, quando a disciplina se fizer tão natural para você, que nem precise mais monitorá-la, passando a prestar atenção a outros setores vulneráveis de sua alma. Com isso, você vencerá.

(Texto recebido em 20 de agosto de 2002.)