Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

A Ciência marcou um ponto fundamental, na cognição e percepção do homem sobre o globo. Através dela, pôde se desvencilhar de toda uma ordem de pensamentos delirantes, sem base racional, que aturdiam a espécie humana desde seus primórdios. Com ela, o misticismo, a superstição, toda forma de tirania e mesmo de ilusões egóicas começaram a ter seus dias contados. Assim, após o seu surgimento, como se a compreende atualmente, há pouco mais de três séculos, o gênero humano deu vários saltos qualitativos de evolução, e dizendo isso não apenas no sentido tecno-científico e no controle de eventos e circunstâncias materiais, mas mesmo em sua estruturação social, em sua forma de entender o mundo e com ele se correlacionar, e, por fim, no modo como os homens vivem uns com os outros.

Entretanto, embora tenhamos que reconhecer todos esses e inúmeros outros benefícios trazidos pela Ciência, desde o sanitarismo à expansão da longevidade humana, da comunicação à distância às comunicações de massa, dos “milagres” da farmacologia à chegada do homem à Lua, temos de convir, também, que a Ciência não passa de um instrumental da mente humana, para dilatar sua percepção e entendimento do mundo e não a fonte de verdade absoluta, como muitos fanáticos de suas fileiras acreditam.

Hoje em dia, a Ciência é idolatrada pelas massas. Apesar de, historicamente, as evidências serem sobejas de que a Ciência afirma algo hoje para refutar amanhã; apesar de, em suas próprias bases principiológicas, a Ciência asseverar que está sempre inacabada e que sempre pode surpreender com descobertas inesperadas; apesar de a Ciência só estar em busca de fatos e não de idéias, muitos, desavisada, superficial e loucamente se lhe rendem aos encantos, como crianças fascinadas dentro de uma loja de brinquedos, que esquecem que existem todo um mundo lá fora, inclusive seus pais, a escola, e a necessidade de se alimentarem.

A essência do espírito é inacessível à Ciência; as artes, igualmente; assim como todas as questões mais transcendentes da espécie humana, como o amor, a família e a consciência continuam e por muito tempo ainda permanecerão como indevassáveis mistérios, para os paupérrimos instrumentos de sondagem da Ciência. E, no entanto, que seria da humanidade sem as idéias de fraternidade, liberdade e igualdade, como propostos pela Revolução francesa? Que seria do mundo sem as instituições da família e das diversas religiões (muito embora algumas careçam dramaticamente revisão de seus postulados)? As verdades mais profundas, substanciais e “concretas” – se é que assim podemos dizer – ou mais indispensáveis à sobrevivência do ser humano são, de algum modo, auto-evidentes. Não exigem comprovação científica, porque, simplesmente, existem e sua existência é óbvia demais para que alguém acima do nível de idiotia possa questionar. É essa, inclusive a base da filosofia científica moderna, como proposto por seu pai: Renés Descartes, que alicerçou todo o seu edifício de concepções sobre a base de um axioma: “Cogito ergo sun” (“Penso, logo existo”).

Assim, gostaria de aqui deixar estabelecido, entre os prezados amigos, um axioma para reflexão e assimilação na vida de cada qual, para maior felicidade e paz gerais, mas principalmente do próprio envolvido na absorção do conceito: não há verdade onde não há sentimento, não há sabedoria onde não há amor, não há propósito onde não existe um coração.

Portanto, que os estimados amigos reflitam, acuradamente, para que não percam de perspectiva o fundamental na existência humana, que não é saber desmedidamente, sem aplicação no dia-a-dia e assimilação na consciência das idéias e informações desenvolvidos e/ou descobertos. Que cada um se recorde de que algo só fará sentido se trouxer frutos de amor e serviço, de bem-estar e crescimento, como dito por Nosso Senhor Jesus: “Conhece-se a árvore pelos frutos”. E, por fim, que lembremos que, como postulado precípuo da Doutrina Libertadora, temos assentado, conforme dizeres do Espírito Verdade, em “O Evangelho segundo o Espiritismo”: “Espíritas, amai-vos – eis o primeiro mandamento – instruí-vos – eis o segundo.”

(Texto recebido em 22 de abril de 2004.)