Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Minha querida irmã em humanidade:

Pergunta-me você, em prantos, o que fazer com seus filhos sofridos e perdidos. Gostaria de roubá-los às provas humanas, poupando-os de acidentes de percurso característicos ao aprendizado e à existência em condição humana.

Não posso, todavia, derrogar leis da criação, no intuito de privar alguém das experiências imprescindíveis ao seu próprio crescimento, ainda que muito desejasse atender às súplicas de seu coração de mãe, condoendo-me com você, solidarizando-me, com empatia, na condição igualmente de mãe em que me sinto incursa, pelos laços do espírito, jungida nesta natureza de relação, a diversos corações amigos, encarnados e desencarnados.

Indaga-me, então, você, ao se confundir, “Como podem as mães do Plano Superior viverem tranqüilas, vendo seus filhos nas malhas de grandes enganos?” E eu lhe respondo, cara amiga, que com fé na Divina Providência, que nunca nos falta e sempre concede novas oportunidades de recomeço, felicitando-nos e aos nossos entes queridos, com inúmeras alternativas futuras de reconstrução do próprio destino, comprometido, por ora, com equívocos e desvios de rota nossos e/ou de nossos corações amados. Pelo fato de nos sentirmos amando incondicionalmente alguém, não se segue que lhe devamos substituir o lugar de Deus em sua vida. Podemos amar infinitamente, ofertar-nos em sacrifício pelo crescimento e pela felicidade de alguém, mas nunca poderemos infringir a lei de absoluta liberdade de consciência que todos os espíritos em fase humana de evolução gozam, quer encarnados, quer desencarnados. Mãe é mãe, reforço: não é Deus. E, se aprendemos a tomar a perspectiva das almas angélicas, que nos observam de altiplanos espirituais por ora indevassáveis à nossa condição de almas enfermas, em logo processo de ascese ao Infinito, compreenderemos que até as maiores dores podem ser presentes sublimes do divino, por propiciarem aprendizado e amadurecimento de nossos filhos incautos, quanto de nós mesmas, quanto também incorremos nos mesmos deslizes. E, se ainda lhe sobrarem dúvidas, no escaninho da mente, a respeito dessa necessidade de respeitar os caminhos do erro de nossos entes amados, pense no que seria dos estudantes, cujo mestre nunca permitissem fazer uso de lápis e borracha, tentando, errando e recomeçando a lição, até fixar o aprendizado… Não há diferença fundamental entre essa imagem e o que nos acontece nas existências primitivas em que ainda nos encontramos, no plano do erro e da tentativa de acerto.

Assim, chorando quase revoltada, por não poder fazer mais por seus filhos, observe esse aspecto: a quase-revolta, e note que, na condição de criaturas, cabe-nos, após ter feito o que está ao nosso alcance, simplesmente silenciar em prece e confiar tudo que mais amamos e nos é mais caro a Deus, que, em tempo e muito melhor que nós, saberá dar solução a todos os enigmas da estrada existencial de nossos pequerruchos de todas as idades.

Sendo assim, mude o foco, agora mesmo, ore com mais paciência e confiança, respire fundo e torne à serenidade, porque se, de fato, seu filho tomar o rumo do pior para ele mesmo, sua perturbação só lhe agravará o desespero, ao passo que sua tranqÜilidade, em meio à tormenta na vida de seu rebento, propiciar-lhe-á um oásis de espiritualidade e paz, que lhe permitirá mais rápido retorno e realinhamento com os divinos desígnios para ele.

(Texto recebido em 17 de outubro de 2004.)