Benjamin Teixeira
pelo espírito
Temístocles.


Se sua mente anda cansada, por muito se dar a alguém que não lhe retribui o afeto, existe uma forma prática de resolver a questão: dê seu carinho e sua ternura a outra pessoa. Se prestar atenção, há carência em toda parte. Receptores e famintos de amor é o que nunca faltará. Se é você quem dá o amor – o problema realmente não é seu: é do outro, que, suicida (o amor é o alimento da alma), não percebe o que perderá. A mercadoria do afeto é preciosa demais, para que você perca tempo intrigando-se com o coração que não lhe deseja as expressões de estima. Assim, compreenda-o em sua loucura ou em sua decisão “racional”. Se prestar atenção, por fim, alguns não lhe querem o amor, por não pretenderem retribuir, pelo que o problema, de novo, é deles: de egoísmo, o que terão de volta: em forma de pobreza emocional e relacional, que os cercará por toda parte.

Cuidado, por outro lado, para não estar dando feição de afeto ao que, inconscientemente, constitui um jogo de poder e controle de sua parte. O desejo de controle começa quando não respeitamos a escolha do outro. O outro não o quer? Siga adiante simplesmente. Haverá quem o queira e o valorize muito mais. Quem o despreza presta-lhe um favor: não está disposto a estabelecer intimidade com você. Outra pessoa lhe dará muito mais.

Mas se a pessoa volta a lhe querer, porque você deu as costas, continue de costas. É louco e vai enlouquecê-los, com suas artimanhas neuróticas de rejeição e poder. Seja forte e não lhe abra mais a porta quando, depois de um tempo acostumado a estar longe dele, ele volte, “humilde”, a lhe pedir que o receba.

Diante disso, não ceda mais às investidas daquele que o quer, quando precisa, mas não o procura, quando você precisa, quando você deixa claro que precisa. Não se trata de ausência de perdão: mas de lógica relacional. Se você deseja fazer a caridade, faça a caridade. Para isso, não é necessário nem mesmo pode haver qualquer intenção de receber retribuições ou recompensas (ou moralmente o ato estará invalidado). Mas não confunda amizade e intimidade com caridade. Não trate seus entes queridos como mendigos de afeto, porque você próprio poderá se converter em um, de tanto dar, sem ser compensado. Para um relacionamento ser saudável, deve estar pautado na reciprocidade. Não havendo isso, rompa a ligação ou modifique-a imediatamente. Mas jamais se submeta a regimes de submissão e abuso, em que a culpa e o medo sejam manipulados, em que você se veja obrigado a se sujeitar aos caprichos do outro e suas artimanhas.

Sim, o outro lado ainda pode estar se sentindo vítima. O egoísta gosta de acusar de egoísta quem não dá prosseguimento a seu paraíso de comodidades e abusos. Bem… isso é um problema também do outro. Suas atitudes, sua vida, bem como do outro, podem facilmente provar quem é o egoísta e caprichoso e quem está apenas se defendendo dos excessos alheios. Além do que, não faz sentido fazer escolhas de vida, conforme a opinião dos outros, ou estará demonstrando grave índice de imaturidade psicológica. A vaidade, inclusive, pode fazê-lo, sub-repticiamente, pretender parecer especial, por tanto dar, sem nada ou quase nada receber. Suspenda qualquer conduta que lhe pareça inspirada neste sistema mesquinho e hipócrita de diretrizamento existencial. Quem é santo ou está no caminho da legítima santidade, dá sem reclamar. Portanto, se você está se lamuriando, deve tomar providências para resolver a situação e não se colocar como “a pobre vítima injustiçada”, o que constitui um jogo mentiroso de controle e, principalmente, de ocultar a verdade de si próprio.

Não se esqueça: quem tem o amor, tem o poder. Não se deixe jamais entrar no jogo do algoz, dos – nos dizeres de autor moderno – “vampiros emocionais”: fazê-lo se sentir mal, por parar de dar a ele o que ele não merece, porque não fez por merecer.

Chegou a hora de agir conscientemente, chegou a hora de agir com a razão. Chegou a hora de você retomar seu poder e cedê-lo apenas a quem você quiser, na hora que achar justo e bom e não conforme as petições delirantes de quem tudo quer açambarcar, sem nada fazer de si, na arrogância típica de quem se acha credor de todos os sacrifícios e doações alheios.

(Texto recebido em 3 de janeiro de 2005.)