Benjamin Teixeira
pelo espírito
Irmã Brígida.

Pedro, o Apóstolo, disse, certa vez: Não há mal que um irmão meu cometa, que eu não possa cometer.

Francisco de Assis sentia-se tão sujo moralmente, que dormia sobre catre de pedra, indigno que se julgava dos regalos de uma cama, e se fazia rolar sobre roseirais, à guisa de purificar sua alma, pela penitência.

Bernadete Soubirrous, a vidente de Lourdes, agonizou supondo-se estúpida, preguiçosa e incoerente com os postulados de sua fé, até que fosse salva pela visão esplendente pela Senhora da Luz, que lhe veio recepcionar, na aduana do Além.

Se você, prezado amigo, já divisou fraquezas em si que lhe fazem envergonhar-se de existir; se você já teve decepções consigo suficientes para maldizer o dia em que nasceu; se você já passou por um processo de auto-conhecimento tal que não lhe sobrem dúvidas sobre a extensão de suas limitações, bem aventurado seja você: teve começo, para você, a grande iniciação para a vida eterna.

Jung, o egrégio fundador da psicologia de profundidade, falava da sombra psicológica e seus aspectos horrendos, que precisam ser descobertos, conhecidos, integrados e transcendidos, a fim de que se possa atingir a Luz.

São João da Cruz fez referência à medonha noite escura da alma, em que o espírito parece morrer de dores morais, para ressurgir mais tarde, renovado.

Madre Tereza de Calcutá fez a surpreendente revelação de ter descoberto, espavorida, dentro de si mesma, um Hitler, a caminho de Calcutá, colocando-se, após isso, inteiramente a serviço da causa cristã da caridade.

Se você está angustiado por se conhecer em profundidade, a ponto de não poder mais tolerar ilusões ao próprio respeito, sinta-se agraciado por Deus, que lhe convida à morte do ego, a fim de que renasça, qual a Fênix mitológica, das cinzas das maiores desilusões em torno de si, para uma vida mais ampla, em padrão expandido de consciência, com valores, prioridades e paradigmas renovados.

Tudo vai depender de como reaja. Alguns transformam a descoberta do material estercorário, no âmago da própria psique, em motivo para chafurdar no lodo do remorso, indefinidamente, adiando projetos impostergáveis, abandonando compromissos santificantes de trabalho no caminho do bem, os mesmos que, ironicamente, propiciar-lhe-iam oportunidade de ressarcimento, ante a própria consciência e ante as Forças da Justiça Divina. Outros, entretanto, desvelando a matéria putrefacta, no imo de si mesmos, convertem-na em adubo da alma, fertilizando sua consciência e sua vontade, para longos e laboriosos períodos de devotamento ao próximo e à Humanidade.

Não se deixe angustiar, muito menos desesperar, caro amigo, se descobre estar, agora, no fundo do poço de suas mais tristes reflexões. Recomponha-se, a partir dos escombros de si mesmo, e disponha-se à reedificação de sua casa mental, rumando para um universo novo de princípios, de conduta, de modo de interpretação da realidade que vive. Se muito viu sujidades sutis, no cerne de si próprio, é provável que a Divina Providência lhe haja conduzido a tal estado de alma, a fim de que expanda a capacidade de entendimento, de perdão e de entrega ao serviço incondicional de amor, por meio da lente mental do nível de humildade conquistado.

E, assim, antes que levante juízo blasfemo a seu próprio respeito, recorde-se de que o Criador é Infinita Bondade, e que, portanto, nunca o relegaria ao léu do abandono, quando sinceramente quer perceber suas falhas e corrigi-las.

Agora, é hora de ressurgir e renascer, não mais de se lamentar. Não canse seus amigos e entes queridos com seus queixumes de ordem espiritual. Dê de si, oferte-se no tabernáculo do seu amor imaculado, ainda que seus pés estejam sangrando, suas pernas andem trôpegas e que seu rosto mostre-se ensopado do suor viscoso das longas jornadas de busca incessante do bem.

Agora, é a hora de amar e de ser feliz, de se perdoar e, dessarte, praticar o perdão com toda a gente; hora de canalizar o Amor Divino e começar por alimentar da linfa sagrada da paz primeiramente o próprio coração, para que possa ser útil a muitos, tantos quantos a Divina Providência permitir.

Nesse momento, em que supõe estar no fundo do abismo; nesse instante, em que a escuridão se afigura mais cerrada; nesse exato minuto, em que tudo pareceu perder sentido e significado, está você numa daquelas bifurcações do destino, sendo convidado a fazer uma escolha, uma confirmação dos seus propósitos, uma opção por Deus, pelo bem, pela verdade, pela vida, pela felicidade…

Nessa hora amarga da treva, apegue-se à esperança e à fé em Deus, como Luz no fim do túnel e, tenha certeza completa: nunca se arrependerá desse depósito sacrossanto de confiança no Ser que Tudo Pode, sempre Ama e tudo renova para a eternidade…

(Texto recebido em 2 de dezembro de 2001.)