Benjamin Teixeira de Aguiar,
pelo Espírito Eugênia-Aspásia.

Ao fundo, suavemente, mas tomando o ambiente, de modo encorpado e intenso, tocava a peça “Souvenir”, de 1904, do compositor tcheco Franz Drdla…

Minha adorável filha do coração jazia sentada, em poltrona de meditação, quando recuou no tempo, em espontânea regressão de memória.

Voltou a uma era anterior à da composição musical, para meados do século XIX. Salão de baile iluminado a luz de gás. Imensas saias-balão e adelgaçados espartilhos comprimiam, com elegância e beleza, todas as damas do recinto. Minha pupila era, então, jovem que sequer adentrara a casa de 20 anos. Os cabelos cor de ébano caíam-lhe em ondas caprichosas, sobre o vestido pérola-branca, em perfeita consonância com a tez nacarada.

Partindo do outro lado do refinado salão de festas, um jovem trajando fraque negro com gravata cinza vem-lhe ao encontro, respondendo ao sorriso da moça pouco mais nova, e , no francês parisiense da época, esforça-se por ser o mais polido possível:

– A senhorita me concederia a honra da dança?

Enrubescendo, Juliette estende a mimosa mão esquerda, depositando-a, fria, sobre a destra quadrada e quente do cavalheiro que lhe fazia a corte.

Pequena orquestra lançava magníficos acordes no ar. A lua cheia inebriava de profecias do Éden o cenário impregnado de perfumes e joias raras, almas nobres, entre pedrarias mais brutas…

Na sacada do casarão, horas mais tarde, trocariam juras de amor, debaixo de uma Lua agigantada. Dotada de expressivas faculdades mediúnicas, Juliette intuía, entrementes, algo de errado nas declarações que permutavam… Pressentia, com clareza, que aquelas promessas não se concretizariam. Solicitou, então, reiteradas vezes, que seu amado repetisse os dizeres de amor e paixão… e apenas aumentava, todavia, a impressão íntima que lhe constrangia o coração sensível… de que algo triste e fatídico os separaria… por muito tempo…

– Descobrirei seu sorriso novamente… em qualquer parte. Vou tirá-la a dançar, para sempre, meu amor… – exclamou, a certa altura, o passional mancebo.

O galante e belo moço morreria, no entanto, de forma violenta, em poucos meses, numa viagem de longo curso. Nunca mais tornariam a se encontrar, a não ser no início do século XXI, quando seus olhares enfim se cruzariam, no domínio da matéria densa. Ela agora era mais velha, fisicamente. Mas o amor de primeiro momento foi inevitável… o amor que vinham entretecendo reciprocamente, há pelo menos três milênios antes da era cristã.

A corte, desta feita, foi deveras mais difícil. Minha estimada filha, envolvida em compromissos sagrados do Espírito, não se julgava em condições de abrir a alma para o sonho de amor d’outras vidas, múltiplas vidas… Era uma “jovem senhora”, quando aquele rapaz mal saído da adolescência a procurava, cheio de empolgação juvenil, e lhe não soava razoável, realista nem responsável acolhê-lo como cônjuge. Um desafio adicional: estavam em corpos do mesmo sexo.

– Eu não vou desistir de você! – foi o que o jovem disse, incontáveis vezes, de inúmeras formas…

Ficaram juntos… estão juntos, há mais de um lustro, nesta data.

Debaixo da mesma Lua que os aqueceu na longínqua Pérsia ou no Egito e Grécia antigos, passando pela velha Roma dos Césares, atravessando a Idade Média e alcançando a encantadora Paris do século XIX, eles agora sorriem um para o outro… sob o fenômeno da “Lua vermelha” ou “Lua sangrenta” da madrugada de 15 de abril de 2014… O sangue e as lágrimas de sucessivos séculos de dificuldades e separações, à guisa de tantos e fortes amores d’outros tempos, da eternidade, que se formam, no cadinho dos milênios, levando espíritos afins a trafegarem, juntos, na direção de Deus, pelos laços trançados com aquela essência que é o hálito do próprio Criador: Amor!…

(Psicografia de 15 de abril de 2014)

PS: Se você deseja ouvir a peça musical assinalada pela Autora Espiritual, no início deste artigo mediúnico, clique aqui.