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É recorrente a sugestão, muito construtiva e nobre, de ouvir a voz da consciência, seguir a própria intuição (que os americanos – não por acaso, agressivos e competitivos como são – teimam em chamar, numa tradução grosseira, mas não equivocada, de “instintos”), descobrir e realizar os sonhos mais ousados, atender e concretizar os reclamos do coração. E muita gente, lamentavelmente, recebe tais sugestões como pílulas de sabedoria pronta, sem atinar para a complexidade de suas proposições, a começar pela identificação desses padrões mentais, variados e entrelaçados numa tapeçaria psíquica inextricável.

Há inúmeros ímpetos, sistemas de pensamento e sentimento, módulos de emoção e sensação, dentro de cada ser humano, a maior parte deles de caráter inconsciente. Todavia, mesmo no que tange aos impulsos que afloram à parte consciente do ser pensante, as motivações profundas (e verdadeiras) quase sempre jazem sepultadas no fosso da inconsciência, sobremaneira por mecanismos automáticos de defesa egoica, já que dificilmente a criatura está preparada para facear e admitir sua totalidade desconhecida – dela mesma.

O poder para realizar sem limites reside de fato no Coração, mas desvestido das paixões de interesse e supremacia pessoais. Há realmente um Cristo ou Anjo interiores, a Centelha Sagrada de Deus dentro de cada um de nós, mas em forma de semente ou de plântulas frágeis. Cotidiana e quase universalmente, porém, nesta civilização terrena, põe-se o rótulo de “Amor, Vocação e Ideal” sobre vergonhosas e mesquinhas ganas instintivas e egomaníacas de poder, desejo e posse.

Perseguir um sonho, para a expressiva maioria dos que assim vivem motivados(as), quase nunca passa de um frêmito atordoante de possuir, conquistar e impressionar, tudo que excita o ego, com emoções baratas, na superfície do ser, sem jamais propiciar a felicidade ou um padrão mínimo de alegria ou bem-estar serenos, que se lastreiam em alicerces mais profundos e estruturais, como princípios espirituais (ou morais) de idoneidade e serviço ao bem comum.

A questão é tão difusa e abrangente, contudo, que, até quando se fala em valores morais, a massa se atrapalha seriamente, visto que muito fácil e generalizadamente confunde moralismo hipócrita de grupo social, cultura e parentela consanguínea com princípios intemporais de decência, urbanidade e respeito aos diretos fundamentais de todos os indivíduos. Ou seja: é arrasadora e deploravelmente comum tomar como voz da consciência o que não passa de padrões de preconceito, introjetados desde o berço e/ou desenvolvidos a partir de então.

Jesus, o Mestre por excelência, não só de Espiritualidade, mas de psicologia e bem-viver, afirmou categoricamente que o Reino dos Céus está dentro de nós. O problema do ser humano médio da Terra de hoje, no entanto, é presumir que este Reino dentro de si esteja mapeado, civilizado, organizado, harmônico e feliz, sem sequer haver sido desbravado, quanto mais conhecido e educado, como seria imprescindível para esta realização última da plenitude, da bem-aventurança ou, em dizeres mais modernos: do alcance da felicidade.

Não fora correto o que retratamos da dura, mas desafiante, natureza humana, em infindável busca de arquitetar a si mesma, em intrincado processo de experimentações e escolhas sucessivas, séculos consecutivos, e veríamos por toda parte, desde sempre, cristãos perfeitos, almas santificadas nas decisões difíceis do coração e, principalmente, legiões sem fim de pessoas bem-sucedidas, em tudo que fazem, e impecável quão inalteravelmente felizes, após lerem os manuais de autoajuda sobre pensamento positivo, que se publicam há mais de um século e vendem exemplares aos milhões, com nomes novos a cada geração.

Não há atalhos para a felicidade, porque não os há para a sabedoria e o autoconhecimento em profundidade. E, para facilitar os estudos dos(as) candidatos(as) à ventura, ninguém a procure fora do espírito de solidariedade, de dedicação sincera à utilidade pública, não importando a quantos abarquem seus esforços beneméritos, pois que, fora da vivência contínua e disciplinada da bondade, da fraternidade, da boa vontade para com os semelhantes, a felicidade é, simplesmente, impossível!

Benjamin Teixeira de Aguiar,
pelos Espíritos Gustavo Henrique e Anacleto.
Texto recebido em 14.01.2013.