Benjamin Teixeira
por
espíritos incógnitos


Algo a nos dizer sobre Arte Espírita?

Muito embora deficiente como campo das artes devotado à divulgação de idéias espíritas, é forte como manifestação fenomenológica da mediunidade, assim atestando inequivocamente a imortalidade do ser, no que concerne, por exemplo, à psicopictografia, a pintura mediúnica.

Sem dúvida, notamos isso. Há igrejas, principalmente as evangélicas, que têm uma forte veia artística. Mas mesmo no que tange a manifestações mediúnicas, a arte espírita tem declinado muito, quase inexistente, e recebida com muitas reservas dentro dos próprios círculos espiritistas.

Sim, tudo isso é muito bom. Não surge a necessidade grande de artes no seio espírita, da mesma forma como, normalmente, não se está, em universidades, preocupado com expressões estésicas do ambiente ou das atividades ali desenvolvidas. Os centros acadêmicos são centros de debate, pesquisa e estudo, e quem por lá aparece tem essa necessidade básica a ser atendida. Se manifestações artísticas mais acentuadas não ocorrem, não se sente propriamente falta disso, porque não é esse o propósito dos que deles se aproximam. Já em atividades que visam a distrair as pessoas, o entretenimento, as artes são muito presentes e imprescindíveis. Por isso que artes e religião são uma combinação um pouco dúbia, e a História bem nos demonstra isso, apresentando manipulações políticas e sócio-econômicas sub-reptícias por detrás das alegorias iconográficas. A Idade Média é um exemplo lapidar do que dizemos. A política do “pão e circo”, todavia, continua sendo utilizada. Quando faltam idéias, sobram barulho e motivos de distração, a fim de cooptar a atenção das pessoas e desviá-las do foco no essencial: a coerência do que se diz e os efeitos práticos de crescimento, pacificação e esclarecimento, melhoria e felicitação dos buscadores de Deus. Se as pessoas querem cantar ou dançar, devem ir a uma danceteria ou a uma festinha particular regada a videokê. Não que não possa haver arte nos meios religiosos, como o uso da música em certos momentos do culto, o que é quase indispensável, para favorecer estados mais receptivos de consciência. Mas o abuso indica inversão de propósitos ou ocultação duvidosa das reais intenções de quem ministra o ofício religioso. Quando há muita pirotecnia, falta conteúdo. E se falta conteúdo, sobram intenções camufladas.

Nossa… Afirmações muito duras…

Verdadeiras. Não podemos ser doces com lobos, ou seremos por eles devorados. Não podemos ser complacentes com a ignorância, mas indulgentes com os ignorantes. Enquanto uma e outros estiverem atrelados, porém, teremos que falar genericamente, já que são os corruptores que se fazem responsáveis pela corrupção. E muitas são as almas ingênuas que lhes caem nas armadilhas. E se alguém está se afogando, não se pode ser suave. Ninguém se preocupa, se alguém está na iminência de perder a vida, de, num movimento brusco, machucar uma ou outra articulação. Machucados se curam, a vida física, porém, perdida, dificilmente se recupera.

Há algo mais que desejem falar nesse capítulo da Arte Espírita?

Sim, que ela vai crescer, como uma forma de atrair a atenção popular, para suas propostas ímpares e subidas, de síntese lógica para todas as questões importantes para o ser humano, com um piso racional e fundamentado em fatos vivenciados por todas as criaturas, em todas as épocas, culturas e lugares. Isso começa a ser visto com Hollywood, que divulga idéias básicas do Espiritismo sem utilizar o nome. Mas a arte espírita terá sempre esse fundo reflexivo e informativo e não alienante, como sói acontecer em certas faixas das religiões ortodoxas. O fato de dizermos que a arte espírita vai se expandir não contradiz o que dizemos acima. Basta que se mantenha em mente que existe a arte que atrai e a arte que distrai, a arte que eleva e a arte que degrada, aquela que lucifica e aquel’outra que aliena. Dessa forma compreender-se-á que não combatemos a arte, mas que almejamos situá-la em suas devidas proporções dentro do contexto religioso e filosófico.

Mais algo a dizer sobre Arte Espírita?

Não.

E com relação à Pedagogia Espírita?

A Pedagogia espírita deve andar entrelaçada à Psicologia. Não pode haver boa educação, sem boa compreensão da alma dos educandos em suas interações com a mente dos educadores, de suas necessidades evolutivas e existenciais. Em termos sumários, a Pedagogia espírita respeita os antecedentes pré-encarnatórios da criança ou do adolescente, o que não acontece na Pedagogia como um todo, estudando-lhe não só as tendências desenvolvidas no ontem, mas também os impulsos à transcendência que traz consigo hoje, seus programas cármicos, seus compromissos espirituais, fazendo o possível para deixar que se desdobrem esses conteúdos personalíssimos de cada jovem, para que então se possa orientar individualmente, conforme as características singulares a cada caso.

Então, isso envolve os pais.

Sim, claro. Os pais são os primeiros mestres dos filhos e os mais importantes e influentes durante toda sua passagem pelo plano material, precipuamente nas primeiras duas décadas da existência física. São os pais, inclusive, sobretudo a mãe (por seus laços mais estreitos e profundos de afeto e energia – gerados sobretudo durante a gravidez), que mais têm condições de identificar ou intuir inclinações ou problemáticas, virtudes ou deficiências de seus filhos, pela maior proximidade física, emocional, pelo amor que ninguém lhes terá jamais igual (que comunica informações e ativa a intuição) e, por fim, pela maior extensão de tempo de convívio que costumam ter sobre professores que, inclusive, têm que dividir suas atenções com vários outros pequerruchos.

Isso nos faz lembrar a clássica distinção entre instrução e educação. Têm algo a dizer sobre?

Sim. Instrução constitui mera transmissão de conhecimentos, no sentido técnico, formal, teórico, intelectual. A educação envolve caráter, sentimento, espiritualidade, religião, valores e moral, princípios e tendências. A educação abarca toda a natureza do indivíduo, ao passo que a instrução pura e simples desconecta-o de sua totalidade. A instrução está inclusa na educação, mas não é toda a educação. Instrução em excesso, sem educação apropriada, enlouquece ou envilece, como tanto vemos gente culta e treinada a fazer uso de seus conhecimentos para o mal, para explorar, enganar e se locupletar, sem qualquer consciência de serviço e respeito ao próximo, à coletividade e aos ecossistemas em que se está inserido. Educação, todavia, sempre dignifica, aproximando o homem de sua essência divina, por meio do desdobrar paulatino de seus potenciais adormecidos. Eis por que dizia Platão, citando seu mestre Sócrates, que educar é a arte de fazer recordar.

Algo mais deseja falar sobre Pedagogia Espírita?

Sim. Que as pessoas serão divididas por áreas de interesse e também por níveis de excelência, conforme feito no passado e ainda agora, com os superdotados. Claro que haverá circunstâncias em que o intercâmbio com outros grupos será estimulado. Mas, para o desenvolvimento de aptidões específicas, indispensável a segmentação em grupos isolados, a fim de que nem o superdotado se sinta especial, nem o infradotado se sinta inferior.

Mas isso não contraria as últimas propostas pedagógicas de romper com esses paradigmas da discriminação?

Poder-se-ia dizer, também, que o Presidente da República não deveria ter preconceitos, na hora de chamar amigos para jantar, e chamar os garis da rua, para discutir os assuntos da nação, em vez de uma cúpula de homens importantes, cultos e inteligentes, como seus ministros e líderes políticos e econômicos do país. Seria o mesmo que alguém dizer que o catedrático não deveria tratar as criancinhas do maternal com distância, por julgá-las “inferiores”, e, quando fosse discutir suas questões avançadas de pensamento, convidasse a turminha do jardim de infância, para partilhar-lhe as angústias intelectuais sibilinas. Obviamente, estamos criando situações hipotéticas extremas, mas apenas situações gritantes clareiam dúvidas sobre temáticas melindrosas e sutis. Deve haver humanidade, respeito e cidadania para todos. Mas, por uma questão de ordem e de afinidade, as próprias pessoas não só devem, mas natural e irresistivelmente, buscam seus grupos de apoio entre criaturas que lhe compartilham o padrão de idéias, valores, sentimentos, metas.

Mais algo a dizer sobre Pedagogia Espírita?

Não, mas encerramos dizendo que todos marchamos para uma Pedagogia do Espírito, em que todos seremos educados, desde criança, não para o mercado de trabalho ou para as premências do mundo moderno e sim, também e prioritariamente, para as grandes aspirações e finalidades do espírito eterno que somos em longo processo de evolução rumo a Deus.

(Diálogo travado em 3 de julho de 2002.)