Benjamin Teixeira
pelo espírito
Bittencourt Sampaio*.

Prezados companheiros do ideal espírita:

Não podemos mais viver acanhados, como se devêssemos algo às tradições e ao bem comum, já que, muito pelo contrário, contribuímos para a concretização das escrituras e ainda fomentamos toda sorte de iniciativas beneméritas em uma aluvião incomensurável. Os espíritas costumam ser toldados por uma timidez quase covarde, com receio de confrontar as opiniões estabelecidas, temerosos, quase sempre, de represálias, disfarçando tais temores, sob a capa de uma serenidade santa ou de uma pretensa modernidade em não abrir debate franco com seus detratores. Não podemos ter vergonha nem medo de expor que sabemos estar com a verdade. Claro que não no sentido pleno da palavra, mas que detemos a forma mais clara, lógica, precisa, racional e mesmo científica do Cristianismo, da Espiritualidade e da busca de Deus. Nenhuma doutrina ou sistema de idéias se compara ao Espiritismo. Nem mesmo as arquimilenares tradições espirituais do Oriente – inclusive por isso mesmo: por estarem fulcradas em dogmas seculares e não nos princípios de bom senso e razão.

Enquanto alguns irmãos em humanidade, adstritos a correntes ortodoxas do cristianismo, gritam aos quatro ventos que o Espiritismo é coisa do diabo, assustando populações inteiras, pouco informadas do que realmente é o kardecismo, seguimos em silêncio criminoso, numa negligência nefanda por divulgar e defender o que afasta vidas do suicídio, da loucura e de toda sorte de desatinos, sem contar a paz e a alegria ímpares que traz a fantástica Religião do Futuro. Ficamos em silêncio, como se fosse atitude despojada ou resignada, na verdade cheia de presunção, covardia e interesse pessoal camuflado, no receio de ser discriminado por ir de encontro ao fluxo dominante de idéias religiosas.

Não há mais tempo nem condições de vivermos às escuras, às ocultas, como se fizéssemos algo de errado. Abaixo a tirania mesquinha, injustificável e criminosa dos que taxam outras religiões como de origem demoníaca! Os que assim dizem, que o provem, e, logicamente, não o poderão, em se tratando da fantástica ética e filosofia espíritas, que propugnam pela caridade, pelo perdão, pela fraternidade universal. Quem lança o anátema da condenação demoníaca não percebe, sequer o patético de estar a si próprio revelando ser força contrária aos desígnios de Deus, ao constituir um vetor de diabolos (separação), entre as criaturas, e entre estas e o Criador. Esquecem-se que o próprio Jesus orou, em Suas últimas palavras, para que todos fossem Um, postulando, assim, a união entre as diferenças e não a divisão por meio delas.

Se lembrássemos que essa atitude da estigmatização de alguém como envolvido pelas forças do mal, por professar credo diverso do próprio, além de retrógrada, é anti-constitucional, poderíamos até pensar em processar em massa cada pastor ou sacerdote dementados ou cada fanático enlouquecido que ousasse nos acusar de diabólicos. Evidentemente que esse não seria o melhor caminho, mas apenas apresentamos em ótica dramática o quão absurda é essa atitude de acusar de satânicos os que aderem, justamente, à ideologia religiosa mais séria, científica e madura (porque ecumênica e universalista) dentre todas as que, atualmente, colocam-se sob a orientação de Jesus.

Deve-se, com o mesmo vigor que nos acusam de mefistofélicos, argumentar-se pesadamente, sem peias, deixando à mostra o ridículo quanto a injustiça de tais acusações, para que aqueles que precisam adentrar as fileiras do Espiritismo, e que carecem de suas instruções salvadoras, não se mantenham à distância, temerosos da condenação patética do inferno, perdendo preciosas oportunidades de regeneração, crescimento e felicidade.

Jesus não era afeito a posturas pseudo-santas de conformação ante o mal. Pregou nos próprios redutos da Besta (o farisaísmo religioso), revirando bancas de comércio no próprio templo de Salomão, com chicote em punho, e acusava as classes sacerdotais de então, sem o menor escrúpulo, de hipócritas, semelhantes a sepulcros caiados: brancos por fora e cheios de podridão e rapina por dentro. Jesus foi um proponente da coragem, da combatividade, da exposição pessoal, em prol da implantação do Reino dos Céus na Terra, sequioso de que a verdade se disseminassem sem censuras, às claras, sugerindo-se pôr-se a candeia em cima do alqueire, e não abaixo, e profetizando, com transparência: conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Ai daqueles que tentam obstar o caminho da verdade, porque estão agindo em nome da Besta e não do Cristo, pouco importando os títulos honoríficos que ostentem cinicamente.

Abaixo as fogueiras medievais! Abaixo a sanha interesseira daqueles que perseguem os genuínos seguidores de Jesus, para defender seus interesses políticos e econômicos. Abaixo a Santa Inquisição que ainda parece querer manter viva sua volúpia assassina, em pleno século XXI. Que mereçam e recebam o nosso opróbrio, as nossas mais veementes objurgatórias e toda sorte de repúdio consciencioso e justo, aqueles que tomam partido da barbárie do terror religioso, em nome de Deus. A crise internacional de terrorismo bem revela a que leva o fanatismo, e todas as suas expressões de sectarismo e de proselitismo irracionais.

Alertem-se aqueles que se julgam enviados de Deus e que, em verdade, acendem o fogo de sofrimentos infernais diante de si, em futuro próximo, por trabalharem contra a Vontade do Cristo de Deus: a de que o Espiritismo siga e cresça no mundo, consolando multidões, regenerando povos. Que se recordem das classes religiosas e sacerdotais dos tempos de Jesus que tentaram deter o Enviado de Deus, temerosos de perderem seu prestígio e poder. A História, e, principalmente, a Mão de Deus, saberá julgá-los, implacavelmente, assim como fizeram aos judeus, em mais de 20 séculos de suplícios até hoje intermináveis…

Cuidado… novos perseguidores do Cristo! Não suponham que estão seguros debaixo de suas catedrais e de suas orgulhosas exegeses bíblicas! Os fariseus e saduceus assim também o pensaram, há 2000 anos, e o templo de Salomão veio abaixo, assim como o seu próprio território foi banido do espaço, e mesmo hoje, passado tanto tempo do episódio do Calvário, continuam carpindo toda sorte de provações, pela perseguição nefanda que perpetraram ao Messias. Agora, perseguem o Paráclito, o Espírito de Verdade que retornou, como predito por Jesus… Cuidado, néscios, porque o castigo, como dantes, virá na medida de a quem se está tentando fazer mal… Acordem, enquanto é tempo… Não se luta contra Deus e Seus sacrossantos propósitos impunemente…

(Texto recebido em 5 de novembro de 2001.)

* Francisco Leite de Bittencourt Sampaio, em sua última existência física, foi egrégio espírita sergipano que, segundo Chico Xavier, porta estatura evolutiva equiparável à de outro famigerado espiritista do século XIX: Adolfo Bezerra de Menezes.