(Episódios com o professor Gerard – 6)

Estávamos em viagem de peregrinação a santuários marianos, em território francês. Dirigi-me ao caro professor Gerard, que escolhera dar continuidade a abordagens mais contundentes, em suas preleções públicas (quanto em ocasiões mais privadas), canalizando diretamente as Vozes Severas do Plano Sublime, numa época e cultura que ainda as rejeitam, não obstante a mais profunda e autêntica tradição cristã a corroborá-las, a começar do episódio em que o próprio Jesus Cristo revira, chicote à mão, as bancas do Templo de Salomão…

Disposto a quebrar todas as ordens de preconceito, o emérito educador acabara de encerrar, naquele final de 2019, um período de maior exposição ante o vulgo, assumindo, por solicitação nossa, o encargo de outra figura pública que se acovardara, para não parecer “menos digna” à vista de seus(suas) seguidores(as)…

Assim, Gerard foi chamado a onerar-se ainda mais. A realização era urgente. Um(a) orientador(a) espiritual de multidões precisaria vivenciar um poderoso e específico exemplo público de espiritualidade, vanguardismo e coragem, bem à frente do padrão de enquadramento à moral dominante que pervaga as sociedades terrenas da atualidade. E o fato é que ele levou a cabo, com louvor, a tarefa que lhe fora designada de Mais Alto.

Autorizado a falar com Gerard, entabulamos nosso colóquio, em bucólica região do interior francês:

– Sabemos o quanto lhe desagrada reverberar diretamente a Ira Sagrada, embora os Endossos Divinos em torno de seu trabalho com a Espiritualidade Sublime lhe confiram respaldo para tal “ousadia”. Tudo parece ser insuficiente para o sistema emocional viciado do ego humano, na civilização dos dias que correm. Muitos(as) o presumem movido por impulsos egocêntricos, o que lhe pode comprometer a autoridade moral, perante seus(suas) alunos(as). Dessarte, por uma necessidade educativa de todos(as) que estão sob sua responsabilidade, você deve deixar clara sua ascendência espiritual, apesar de isso não lhe interessar ou não lhe aprazer ao gosto pessoal.

– Não me sinto digno, mas estou aberto a que seja feita a Vontade de Deus, por meu intermédio, não importando a que custo. Há muito tempo, desisti de corrigir a imagem deformada que fazem de mim, justamente nos momentos em que envido maior esforço em ser fiel aos desígnios dos Seres a Quem sirvo. Você acompanhou as aflições que sofri, quando precisei ser mais transparente, nos últimos meses. Tudo me é bastante pungente, mas minha consciência pede que prossiga no meu posto de serviço, mesmo que se converta em poste de sacrifício.

– Compreendo sua pertinácia, estimado Gerard. Entretanto, caso não me atenda a sugestão de contemporizar em situações que lhe exijam maior firmeza, estou encarregado de determinar a continuidade do processo que se inicia em seu punho esquerdo.

– O quê? – indagou-me, perplexo, o ínclito amigo.

– “A ‘misteriosa’ inflamação que lhe dói a ponto de você sequer conseguir se concentrar em uma oração, ainda que sob efeito de fortes ingestões analgésicas, surgiu repentinamente e sem nenhuma razão plausível, após nossa visita ao último santuário de Maria. Não percebeu? Foi-lhe ofertada uma graça: o Céu quer que o mundo o veja “marcado” pela Divindade.

Sim, é isso mesmo: vai se converter num estigma, em sua acepção mística. E você não terá como escondê-lo. Não providenciamos o fenômeno nos pés, qual ocorreu ao responsável por essa função celeste, no século passado. Todos(as) notarão o sinal, próximo à sua mão esquerda… a que simboliza o lado do coração, porque muitas almas não estão tendo a maturidade psicológica para acompanhar, com o devido respeito, seu martírio público, por tanto e tão bem você saber ocultá-lo das massas. Essa confusão tem levado alguns(umas) menos esclarecidos(as) a perder ensejos preciosos de aprender e crescer com seu discurso mediúnico. Eis o motivo profundo para apelarmos a tão dramático expediente.”

Somente então o professor Gerard teve dimensão da gravidade de nossa argumentação. No fundo, acreditava que desistir de canalizar a “Ira Divina” constituía um capricho ou uma “covardia” de sua parte. Com essa revelação, entrementes, apreendeu, em sua justa proporção, a seriedade de nossa opinião acerca do tópico.

E, conquanto ele continue sendo a Voz profética com poder de decidir e se exprimir, em nome de nossa Assembleia Espiritual, foi-lhe descortinada a oportunidade de cessar as Ressonâncias sagradas mais severas que Se manifestavam por suas faculdades medianímicas.

Parte de nossas postulações ao emissário encarnado, no diálogo que se passou há um ano, está coberta por inatacável confidencialidade, de sorte que nem mesmo a modificação dos nomes dos(as) envolvidos(as), o que sói acontecer nestes nossos ensaios despretensiosos, nos autorizaria trazê-la a lume. Contudo, um último conjunto de estipulações, que tive a honra de transmitir ao médium da preclara Sophia de Alexandria, está sumariado a seguir:

– “Você deve continuar com a iniciativa de narrar, ao menos em linhas gerais, episódios de sua infância, discorrendo sobre os traumas sofridos, como também de sua vida adulta, aqui ou ali, tangenciando ocorrências mais funestas. Por outro lado, sugerimos-lhe, enfaticamente, que pare, quanto possível, de acentuar traços de sua personalidade que pareçam vergonhosos ou inapropriados, para o moralismo deste século, e relativize um pouco sua completa despreocupação (já considerada prejudicial) em se acomodar às convenções.

Você permanece livre para não aceitar essas nossas proposições e prosseguir se apresentando como uma pessoa comum aos olhos do mundo… No entanto, por ser representante desta Embaixada Excelsa, no domínio físico de existência, estará obrigado, com isso, a ostentar o fenômeno espiritual da estigmatização, em seu próprio corpo, onde estiver, porquanto a “marca divina” lhe aparecerá nesse ponto bem visível a quem quer que se aproxime fisicamente de você…”

Depois do ultimato, nosso respeitável professor Gerard tem se empenhado, sinceramente, em nos atender às recomendações. A grande mestra Sophia, que havia proposto o tom dessa “negociação”, digamos assim, estava certa, como de costume: logramos persuadir, até onde alcançamos, de maneira duradoura, o determinado guerreiro das Forças do Bem.

Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
Gustavo Henrique (Espírito)
Bethel, CT, região metropolitana de Nova York, EUA
22 de novembro de 2020

Postscriptum do autor espiritual:

O momento em que a mística “lança” perpassou o punho do professor Gerard

Segue-se um detalhamento que julgamos importante, sobre o fenômeno “inflamatório” que aconteceu no punho de Gerard, logo após sua visita a um santuário francês dedicado a Maria Cristo.

Estava ele num restaurante, com seus três companheiros de viagem, quando, sem haver feito qualquer movimento, foi atingido por uma dor lancinante, como que se uma lâmina ou um simbólico “prego” lhe houvesse atravessado, em golpe célere, o punho esquerdo.

Imediatos inchaço, vermelhidão e dor afligiram-no na região, de modo persistente e progressivo, levando-o a documentar o ocorrido, por meio de fotografias e filmagens da área afetada, no intuito de consultar especialistas em saúde, à distância.

Analgésicos e anti-inflamatórios não lhe surtiram qualquer efeito, e assim transcorreram os aproximados dois dias seguintes. A dor era tão aguda, que o atrapalhava em todas as atividades, incluindo dormir ou fazer uma prece.

Depois de o professor Gerard concordar com os termos de nosso diálogo-acerto, a “misteriosa” inflamação em seu punho “do lado do coração” desapareceu, em questão de poucas horas, da mesma forma natural e “inexplicável” com que lhe houvera surgido.