Benjamin Teixeira
pelo espírito
Gustavo Henrique.


“Suplicamo-vos, irmãos, que reconheçais aqueles que arduamente trabalham entre vós para dirigir-vos no Senhor e vos admoestar. Tende para com eles singular amor, em vista do cargo que exercem.”
Paulo de Tarso (I Tessalonicenses, 5:12-13).

 

O breve episódio, que se segue relatado, acompanhei-o não vai muito tempo, e creio que pode ser útil aos prezados leitores de nosso sítio eletrônico.

O médium chegou em casa, julgando estranha a ocorrência, mas sentindo-se em paz e mantendo o padrão de felicidade que trazia consigo há várias semanas (e, em medida menor, há vários meses). Resolveu se concentrar em meditação, para avaliar o que se passava consigo, em caráter de profundidade, e chegou a uma conclusão que lhe soou desconfortável moralmente: sentia uma branda sensação de sarcasmo íntimo, como se estivesse rindo por dentro, com o ridículo da situação, em vez de estar magoado. Percebeu, no próprio coração, uma vibração de “Graças a Deus”, mas considerou meio mesquinho o sentimento. Em vez de estar triste com o novo disparate do ex-amigo, sentia-se maravilhosamente livre e tranqüilo. O acontecimento em nada lhe afetara o humor e parecia apenas ser mais uma confirmação do quanto estivera certo, desde o início das pendências que tiveram um com o outro. E se libertar de pequenos resíduos de culpa é sempre bom, como vinha fazendo de há muito. A evolução de seu quadro emocional fora de tal forma expressiva, que quem o conhecia há seis meses (sem contactá-lo daquela data para cá) pasmaria em encontrar o outro homem em que se tornara. Tinha esta incrível habilidade: aprendia rápido; e quando lhe davam uma rasteira, equilibrava-se com um salto para frente, avançando sempre mais, na marcha já acelerada que desenvolvia, de espírito empreendedor na Causa do Cristo.

Inesperadamente, estando assim em estado de meditação nobre, com o alto diapasão vibratório dos que vivem alinhados com o Supremo Bem, no serviço constante aos semelhantes, um orientador do plano espiritual se aproximou, e soprou-lhe à acústica mediúnica:

“Recebeste com afeto e deste atenção a quem te feriu no caráter, acusando-te injustamente, bem como te prestaste visivelmente a te conciliar qual se nada houvesse acontecido, com o intuito de proteger o interlocutor das ciladas do próprio ego e orgulho ferido. E a pessoa, em retribuição a teu gesto de indulgência, tornou ao jogo de desprezo e rejeição.

Que fazer, não é mesmo, companheiro? Minha resposta à tua perplexidade, com relação à tua reação de indefectível calma ante o desatino do ex-companheiro de ideal é esta: estás certíssimo em não te abalares – fica em paz. Agiste com enorme dignidade: poderias ter sido frio e distante, ou pelo menos restringir-te a demonstrar educação. Mas preferiste ser cordato e acolhedor com a iniciativa de aproximação do colega. Sabes quantos pontos ganhas ante o Plano Sublime, por teres sido, generosa e misericordiosamente, amistoso nestas circunstâncias?…

O mais interessante de tudo: ele nem sequer se dá conta, conscientemente, da própria atitude – são os vícios típicos aos muito adulados. Tu, que és demasiadamente querido também, tens um mérito excepcional por não teres caído na mesma tendência – fica certo disso. Ele supõe que te pode ainda ferir, mas tu só sentiste um risinho íntimo de total desdém pela atitude infantil e mesquinha que lhe é ainda peculiar. De fato, ele está atrelado, inconscientemente, ao padrão psicológico do sadomasoquismo, em todas as relações interpessoais que vive, dos familiares ao cônjuge. Com isso, perdeu nova chance de felicidade e te deu um presente magnífico: a informação de que realmente não quer nem pode ser teu amigo – não é verdade? Realmente, não é má pessoa, mas muito mal-acostumado, como bem sabes, porque há sempre conselheiros e amigos a endossarem suas posturas mórbidas, apoio este que ele sequiosamente sorve, já que, para os estróinas, são sempre sábios e justos os que lhes respaldam os jogos subliminares de manipulação e poder a que estão aferrados.

Personalidades vaidosas acusam de vaidoso quem ‘ousaʼ ser melhor do que elas, como se alguém fosse culpado por estar à frente de outrem, em algum sentido, no carreiro evolucional. A inveja, o orgulho e o sentido ególatra de competição exacerbada, assim, entrelaçam-se, num cortejo sinistro de loucura, levando o indivíduo surtado a ainda se sentir vítima, quando se faz vilão de almas bem-intencionadas que lhe vão adiante, no trajeto do desenvolvimento espiritual, e que muito lhe poderiam ser úteis, estimulando-lhe o progresso, caso se permitisse conviver com elas.

Chega a constituir uma patética ironia tal evento, porquanto, no fundo do coração, sabes que teu problema maior é o complexo de inferioridade – e não a vaidade –, a ponto de te dificultar assumir toda a extensão de tuas responsabilidades. Como te esforças, todavia, por atender às conclamações de teus Maiores, vês que te tornas cada vez melhor como pessoa, que realizações magníficas são desdobradas por teu intermédio, e que a felicidade cresce a mancheias na tua e na vida de todos que te partilham a intimidade. Existe um nome para o motor de tal onda crescente de fausto em torno de teus passos, amigo: lei de causa e efeito. Como vives para fazer o bem, até para quem te é ingrato, o bem retorna progressivamente potencializado em tua direção. Deus te abençoe.”

Concluso o breve discurso de esclarecimento do preclaro condutor espiritual do Domínio Excelso de Vida, o medianeiro levantou-se e deu prosseguimento às suas atividades noturnas, disciplinadíssimo na prática constante do bem. O caso foi dado por resolvido.

(Texto recebido em 9 de janeiro de 2008. Revisão de Delano Mothé.)