Benjamin Teixeira
pelo espírito
Anacleto.

Há a dor de ser feliz (pelo medo de se perder a ventura e não se poder dela garantir fruição perene), como há a tristeza de se não conseguir a felicidade (como se a idealiza).

Não busque viver pólos de opostos: são enganadores. Viva o Fluxo, que constitui a conjugação permanente dos dois princípios de força (positivo e negativo), por onde as correntes de energia podem trafegar e, com isso, gerar criatividade, renovação, realização e felicidade.

O tédio e a frustração, construtivamente aplicados, podem ser fonte de crescimento e alegrias maiores, mais profundos e duradouros que os usufruídos na fase anterior ao surgimento do fastio. A boa sorte, mal administrada, em contrapartida, facilmente conduz à bancarrota, em todos os sentidos, do físico (saúde orgânica) ao espiritual (realização da consciência), passando pelo material (posses) e por questões psicológicas e sociais (relacionamentos interpessoais).

Você ainda precisa estabelecer fronteiras claras entre o bem e o mal, o certo e o errado? O maniqueísmo bem/mal, certo/errado pode dividi-lo, na aflição contínua da insatisfação, e levá-lo a comportamentos radicais, destrutivos (incluindo os autodestrutivos) e alienantes de uma percepção mais completa da existência e suas múltiplas facetas e inextricáveis complexidades.

Sem a sabedoria para perceber o bem que pode advir do mal (como o aprendizado das crises) ou notar o acerto acontecendo, através do equívoco (como a experiência e a maturidade decorrentes da vivência do fracasso), jamais lhe será possível a maturidade, a plenitude e a lucidez das almas redimidas.

O perdão das ofensas, o sacrifício pelo ideal, o amor incondicional são corolários inexoráveis desta conquista axial: viver acima da dicotomia esquizóide do paradigma da separatividade. Não há uma divisão objetiva entre o “eu” e o “você” (num mundo de padrões culturais e mentais compartilhados), assim como não há entre o “em cima” e o “embaixo” (num planeta redondo), ou entre o “dentro” e o “fora” (neste universo de subpartículas atômicas, que tudo constituem e tudo interpenetram).

Veja além das aparências, onde reside a essência de tudo, que tem sua melhor sinopse na prece-profecia final de Nosso Senhor Jesus, em sua passagem pela crosta do orbe: “Pai, que todos sejam Um.”

(Texto recebido em 25 de março de 2008. Revisão de Delano Mothé.)