Prezado(a) visitante do site Salto Quântico:

No último dia 26 de abril, completamos (eu e os sábios e bondosos espíritos a quem represento no Plano físico de Vida) 11 anos de atividade pública, na divulgação das ideias espíritas. Naquela longínqua quinta-feira de 1990, com exatos 19 anos e meio de idade, lançávamos, no hoje extinto Jornal da Manhã, o artigo A Dor. Tinha início o trabalho que os espíritos me diziam que começaria pela imprensa, para desembocar na televisão, o que de fato veio a ocorrer em janeiro de 1994.

Na verdade, o processo de despertar para esse trabalho começou na minha mais tenra infância, sem que tivesse ciência do que ocorria. Aparições me acompanhavam, ruídos e fenômenos físicos de movimento de objetos, sem qualquer causa material, o que hoje chamaríamos, seguindo uma terminologia mais técnica, respectivamente, de psicovidência, psicoaudiência e um brando poltergeist.

Mas o verdadeiro marco da minha iniciação, na minha opinião, aconteceu com uma série de leituras que fiz a partir de fevereiro de 1985, sobre os curiosos fenômenos paranormais e a dita possibilidade de programar a mente subconsciente. Dois anos e meio mais tarde, em julho de 1987, então com 16 anos, fiz uma viagem a Recife, para me isolar de familiares e amigos, por um período de três semanas, trancando-me no apartamento de uma já desencarnada tia-avó, a fim de, isolado, estudar diversas correntes de filosofia, tanto Ocidentais como Orientais. Isso porque, pouco antes disso, por três meses, devotei-me profundamente ao catolicismo, e me veio a suspeita de que estaria sendo exageradamente unilateral, sem um conhecimento mais abrangente do que outras culturas e povos criaram em termos de introvisões da verdade. Naqueles dias, em que acabei por me tornar agnóstico, foi-me revelado que teria que trabalhar com a comunicação televisada, exortando as massas à conexão com Deus. Em poucos meses, o quadro intuitivo já estava mais claro. Sabia, com uma certeza tal que se afigurava a uma memória de algo que ocorrera e não a uma impressão a respeito do futuro, que trabalharia na televisão, divulgando uma certa filosofia, que então desconhecia, em nome de um grupo de Inteligências invisíveis, o que se confirmou inteiramente, ao travar contato com o Espiritismo e tornar-me Canal das entidades de escol que têm se comunicado por meu intermédio desde o ano em que me tornei espírita, o já distante 1988.

O que hoje, em particular, faz-me vir partilhar esse trecho de minha biografia e do projeto Salto Quântico com o prezado visitante do site é o fato de que comemoramos, nós (a equipe de encarnados, cheia de zelosos amigos) e a Turma de Lá (composta de avançadas inteligências despojadas de corpos físicos), 10 anos de nossa primeira palestra pública, que se deu em 1º de maio de 1991, na cidade de Itabaiana, Sergipe. Durante uma hora, 70 pessoas pacientemente suportaram-me falar sobre uma, à época, estrambótica teoria que fazia uso da metáfora de um foguete, para traduzir a necessidade de o ser humano lançar-se às alturas da consciência unitiva com Deus, a partir da perda das estruturas de propulsão, as mentes subconsciente e consciente, até que gravitássemos, num futuro longínquo, em órbita de Deus, dotados, tão-somente, de nossa superconsciência. Para isso, fiz uso de conceitos das três principais escolas da psicanálise: de Freud, Ádler e Jung. Era um encontro para jovens, aliás eu próprio era, pode-se dizer, um adolescente entre outros, com 20 anos então. Imagine-se que tipo de impressão causei. Odiaram minha apresentação. Gentilmente, porém, deixaram para tecer comentários somente anos depois. Um deles me disse que fuzilava-me com olhos de perplexidade: Qual é a desse Cara? – disse-me que pensou e falou francamente com os amigos por lá, na ocasião. Felizmente, parece que os anos me têm feito bem, nesse sentido. Dois anos antes, quando adentrara a faculdade de Direito da UFS, tinha recebido o não muito lisonjeiro apelido de Benjamão, em direta referência ao Aurelião, pelo uso comum de verbetes fora já do vernáculo popular. Achava, à época, muito consciente o que fazia: deixava para caprichar no vocabulário, nas exposições em aula, falando o blá-blá-blá vulgar nos corredores, com os colegas, quando descontraído. Supunha que, num centro de saber, como a universidade, tínhamos que dar o nosso melhor, para recebermos também o melhor dos outros. As palavras e mesmo os conceitos, amiúde, complexificavam-se tanto que eu mesmo me perdia em minha verborreia, ou, como melhor seria dizer: logorreia. A atividade de professor da multidão, no espaço de uma década, todavia, tem-me sido muito válida em me lecionar didática e técnicas de comunicação.

Passaram-se mais de dez anos desde aquela inesquecível tarde no centro espírita Amor e Luz; quase vinte anos transcorreram desde que comecei a estudar o assunto a que me dedico hoje, bem como mais de um quarto de século se passou, desde que os primeiros fenômenos medianímicos ocorreram em derredor de minha pessoa. E como a vida passa rápido, prezado amigo… Não vale a pena perder tempo com questiúnculas do cotidiano, consumindo-se tão-somente com as agruras da sobrevivência e na obediência mecânica a convenções sociais.

Inúmeros grandes talentos, nas ilusões de eternidade que a juventude insinua, deixam-se absorver pelas solicitações imediatas a se posicionarem no mercado de trabalho, casarem-se e terem filhos, acumulando compromissos sobre compromissos, afazeres sobre afazeres, completamente esquecidos de como a juventude é passageira, para despertarem, espavoridos, comumente arrasados de frustração e tristeza, décadas mais tarde, após a perda de um ente querido, um divórcio ou a aposentadoria, se não por uma doença degenerativa crônica e terminal em si próprios.

De capital importância que cada um encontre seu espaço no mundo profissional, bem como que constitua família e seja feliz na vida afetiva. A questão, todavia, que aqui assinalamos é que o essencial costuma ser preterido a tudo, colocado em último plano, quando deveria ser a prioridade absoluta: descobrir o propósito a que se veio à vida física, a finalidade, o sentido, a razão de ser, de viver, de sentir, o porquê se luta, sofre-se e persevera-se.

Sinceramente, se o prezado internauta me permite uma confidência, que não me recordo de haver feito até a presente data, por receio de magoar as pessoas, (mas que hoje sinto salutar revelar): não consigo compreender o que se passa na cabeça de quem vive sem saber para que vive. Não sei como alguém pode suportar a rotina, os dias e as noites, sem saber qual a razão de sua existência. Considero um ato de extremo heroísmo e de uma excepcional capacidade de suportação à dor moral que, francamente, não me sinto ser dotado. Só suportei essa angústia colossal até os 16 anos. E, quando as pessoas vêm até mim e dizem que não sabem o que estão fazendo na Terra, parte-me terrivelmente o coração, lembrando-me do que sentia até há 15 anos atrás, ao passo que me admiro deveras da força moral e da resistência psicológica desses indivíduos: no lugar deles, já teria enlouquecido ou morrido de amargura.

Não quero, porém, parabenizar quem está se sentindo ao léu. Quero fazer uma exortação a que saiamos da inércia de julgar normal ser um autômato, viver como um zumbi, trabalhando, reproduzindo-se e consumindo-se até a morte, em funções executadas mecanicamente. Somos seres sencientes! Nascemos para a glória da cocriação com Deus! Somos seres autopoiéticos, artífices de nosso futuro, construtores do nosso e dos destinos de nossos entes amados e da humanidade como um todo. Cabe-nos o crescimento ininterrupto rumo à autotranscendência, à autorrealização, à plenificação de nossas consciências, com o contínuo desdobrar de potenciais, no fluxo constante da inspiração vocacional, do autogerar-se um pouco todos os dias, em direção ao infinito e à felicidade…

Não me diga, caro amigo, que era isso que mais queria e não pode. Sou igual a você. Só sou mais cara de pau e rebelde demais para me acomodar com algo menos que a minha felicidade e a dos meus amados, e isso sinceramente reconheço. Façamos uma revolução: a revolução da felicidade. Não nos entreguemos mais à loucura acomodatícia da morte dos sonhos, da morte da alma, a pior morte que existe: a morte em plena vida… Não que possamos realizar todas as utopias, mas que briguemos por elas até à morte, e ao menos morreremos em paz, sem o inferno inqualificável da consciência em culpa, dos remorsos pelas oportunidades perdidas.

Muita gente me vê com um programa de televisão que hoje é o mais antigo não jornalístico, no ar, em Sergipe, e que já teve a honra de ser nacional por três anos e ser transmitido por 13 meses em território norte-americano, com mais de dez livros publicados aos 30 anos, e me julgam um privilegiado. Hoje, porém, não vou ser modesto, porque não será útil para quem me lê. Vou dizer que foi, simplesmente, horrível chegar até aqui. Que suei como vi poucas pessoas fazerem, perdendo noites de sono estudando, trabalhando e chorando enquanto outros de minha idade se divertiam e desperdiçavam sua juventude, e que mergulhei em crises existenciais que me conduziram, frequentemente, ao limiar da perda da sanidade mental e mesmo do desejo de viver.

Nesses 15 anos de jornada rumo a minha missão de vida, ouvi as coisas mais desanimadoras, chocantes e desesperadoras que um ser humano pode ouvir, inclusive de figuras amadas e de autoridade, dentro e fora de casa, o que, aliás, ainda hoje acontece. Atassalharam-me por diversas vezes a reputação, acusaram-me de toda sorte de vileza, tacharam-me de louco e irresponsável. Larguei a faculdade que muitos lutam para entrar e não conseguem (Direito), por acreditar, completamente, que não nasci para isso, e que seria uma franca prostituição da consciência receber um diploma apenas para ostentá-lo, mas isso me valeu a pecha de imaturo. Será mesmo? Deixei de me concentrar no acúmulo de riquezas (o que, digo honestamente, não me constitui tentação), e me acusam de inconsequente. Seria mesmo? Não quis me casar e constituir família, embora tenha me apaixonado diversas vezes, por meu coração não me pedir isso, despejando meu amor por muitos corações em vez de um conjunto pequeno de almas, e me chamam de esquisito… Seria mesmo? Falo abertamente das hipocrisias religiosas e das contradições e incoerências das posturas conservadoras, que ocultam interesses vis, no establishment, e me estigmatizam de endemoniado. Receberia essa mesma alcunha dAquele a Quem daremos contas?

Expus-me ao ridículo, ao escárnio público, ao fracasso mais retumbante (sem perdão ou consolo para alguém que agia tão loucamente), a sofrer toda forma de adversidade, ataques e obstáculos (por estar remando contra a maré do sistema e da cultura dominante), à miséria, por consequência, e – horror dos horrores para uma pessoa honesta – ser tratado e visto como um charlatão. Sem conseguir aceitar o óbvio: que eu poderia, tão-somente, ser um idealista, muita gente tentou – e ainda tenta – adivinhar toda sorte de estratagemas mirabolantes e diabólicos em minhas intenções. Sem direito, muitas vezes nos momentos mais difíceis, de apenas receber a gentileza de ser visto como uma de pessoa de boa vontade, fui interpretado à conta de um espertalhão, um bobo fanático ou um maníaco, quando não como direto representante das Forças do Mal.

Nada há de graça nesse mundo lamentavelmente ainda coalhado de dores. Não por acaso o nosso primeiro texto publicado, em 26 de abril de 1990, foi intitulado “A Dor”. Isso digo com toda autoridade de quem propõe a felicidade como dever e compromisso para a vida de todas as pessoas. A questão, entretanto, é que muita gente quer uma vida fácil, isenta de desafios, incertezas e fracassos, como se fora possível evoluir sem errar, sem adquirir experiência. Assim, permito-me falar abertamente sobre o que sinto a respeito de mim e do meu trabalho. Sou feliz porque, a despeito de minha enorme coleção de defeitos e limitações, cumpro, dentro do possível, o que sinto ser a Vontade de Deus a meu respeito. Considero uma franca loucura, da minha parte, dar-me à ousadia de realizar uma obra que afeta tantos milhares de pessoas, todos os dias, como porta voz de Seres do Plano Maior, tão à frente de nós, na escala evolutiva, mas simplesmente tenho que fazê-lo, porque minha alma me pede, e prefiro morrer, porque seria pior que a morte, não ouvir o meu coração.

E é essa mensagem que quero deixar hoje para o prezado internauta, não dos espíritos superiores, em seus páramos de glória impoluta, mas do irmão de caminhada, tão limitado e fraco como você: não desista do que seu coração lhe pede, não abra mão de viver sua vocação, sua felicidade, não deixe de amar sem medidas, de fazer o seu máximo pelo bem do semelhante. Hoje é o dia de você declarar seu amor a seus entes queridos. Hoje é o dia de você fazer o que seu ideal lhe inspira. Hoje é o dia de você ser feliz! Que importa o que pensem ou o que digam? Será que a preocupação com as aparências deve ser maior que a dor da alma que se violenta, que se oprime, que se massacra, que se consome no vazio de uma vida sem sentido?

Não espere fazer muito, porque o muito é resultado de anos (séculos de reencarnação) de trabalho e persistência. Faça pouco, mas faça sempre, faça agora. Amanhã talvez seja tarde demais, se é que haverá um amanhã. Você vai cair inúmeras vezes, vai ser incompreendido e mal-interpretado, atacado e perseguido injustamente, fará e dirá asneiras de que se arrependerá, mas estará com a consciência tranquila de quem tenta acertar e fazer o melhor a despeito de tudo, de todos e de si mesmo, na plena convicção de que não existe dor maior do que a frustração de um ideal. Não espere por grandes ou especiais ocasiões, para exprimir seu amor pela vida e começar o projeto que seu ideal lhe inspira. Como disse Geraldo Vandré, em palavras lapidares que faço minhas, em uma pérola de inspiração de há mais de 30 anos atrás: Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora não espera acontecer…

Benjamin Teixeira de Aguiar Machado.
Aracaju, 1º de maio de 2001.