Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

“Também os escribas, que haviam descido de Jerusalém, diziam: ‘Ele (Jesus) está possuído por Belzebul – é pelo príncipe dos demônios que ele expele os demônios.’ Mas, havendo-os convocado, (Jesus) dizia-lhes, por parábolas: ‘Como pode Satanás expulsar Satanás?’(…) ‘Em verdade vos digo: todos os pecados serão perdoados aos filhos dos homens, mesmo as suas blasfêmias; mas todo o que tiver blasfemado contra o Espírito Santo jamais terá perdão, mas será culpado de um pecado eterno’.”

(Marcos; 3:22-23,28-29)

Veja o que você acharia de uma pessoa destas, nos dias de hoje:

Desobedecia os pais, principalmente em momentos críticos, em que poderia perder a própria vida, como numa grande viagem de massa.
Dizia que era a única salvação para todos, e que quem não concordasse com ele, estava condenado para sempre.
Dizia que ele e Deus eram um só e que somente ele poderia perdoar os pecados das pessoas.
Vivia cercado de malfeitores, prostitutas e corruptos contumazes, tratando-os como amigos e convivendo na intimidade com eles.
Não respeitava convenções de higiene e recato público, como lavar as mãos antes de comer ou descansar nos dias santos.
Dizia que todos os homens considerados respeitáveis do seu tempo, a começar das classes sacerdotais, eram hipócritas e semelhavam a víboras, nestes termos.
Em uma situação pública, desconheceu a própria mãe e os irmãos, e não lhes atendeu o chamado, como se não lhes merecessem a menor atenção, dizendo que não sabia quem eram sua mãe e seus irmãos, e que somente os que o seguiam seriam considerados seus familiares.
Dizia que ele mesmo sozinho poria por terra o maior templo, o maior modelo vivo da fé e da cultura do seu povo e o reconstruiria em três dias.
Dizia que se deveria pagar o imposto ao povo invasor da sua nação, porque tal tributo lhe cabia.
E, apesar de tão duro com todos que não o seguiam, quando um amigo íntimo esteve doente de morte, não o visitou, até o ponto em que o seu devoto amigo já estava enterrado há quatro dias.

Que personalidade “repulsiva” seria esta? Quem seria tão arrogante, petulante, delirante e autoritário a este ponto?

Se você conhece um mínimo elementar das “letras evangélicas”, sabe que retiramos essas passagens da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme a tradição dos evangelhos sinópticos (*1). Mas, por um momento, esqueça a parte dos milagres, da pregação brilhante, dos fenômenos magníficos que aconteceram em torno dele. E pense apenas na parte meramente “moral” (leia-se: moralista), que estava incomodando os inimigos de Jesus, o Cristo perseguido, Salvador da Humanidade inteira. Deste prisma, não será difícil concordar com aqueles que foram responsáveis pela crucificação do maior homem entre todos que habitaram a Terra.

Você diria que seriam loucos, por não verem os fenômenos que se ocorriam sob seu comando e por não quererem ouvir suas pregações ímpares, mas, além de protegido pela vantajosíssima perspectiva histórica de estar dois mil anos à frente no tempo, é exatamente isso que se faz, ainda hoje, quando se condena alguém: suas boas obras são desmerecidas, seus motivos e seu discurso são distorcidos ou negligenciados.

Os grandes representantes do Plano Superior são, ainda nos dias que correm, embora longe estejam de poderem ser comparados a Jesus e muito embora também respeitadas as devidas proporções de tempo e lugar, da mesma forma recebidos, tratados e interpretados: como hereges abomináveis, merecedores de opróbrio, escárnio e execução sumária públicos. Quem está à frente do seu tempo, embora possa prová-lo se for ouvido, normalmente não o é, no instante dos julgamentos mais implacáveis. São, os que se alistam nesta categoria da vanguarda evolutiva, taxados de loucos, irresponsáveis ou abertamente de charlatães, sem lhes dar espaço à defesa, simplesmente por uma avaliação apriorística, preconceituosa, e, portanto, leviana e criminosa.

Mas… onde estão mesmo os judeus que condenaram Jesus à sentença de morte, de modo tão inapelável? Onde estão os romanos e o “inexpugnável” Império Romano que se dizia nunca teria fim? Sepultados… na poeira dos séculos. E o Cristo segue, e cada vez mais, como pedra fundamental do edifício da civilização humana. Ninguém tenha dúvida que o mesmo se dará com aqueles que estão envolvidos atualmente no drama da continuidade da mensagem espiritual sobre o globo.

No que tange à Paixão de Cristo e seus responsáveis, a resposta das Forças da Vida não veio logo, o que foi muito pior: veio nos anos posteriores, com acúmulo de débitos. Em 35 anos, Israel foi varrida por sangue e morte (*2) e, por vinte séculos, o “povo escolhido”, com seu orgulho incorrigível, vagou sem norte, sem pátria, sem tino, para retornar à “terra prometida”, ainda entre sangue e morte… (*3) Quanto a Roma, o Império “que não teria fim”, foi destruída por povos bárbaros e seu colossal poderio esfacelado, até lhe restar, tão-somente, a história de um tempo cujo fausto e arrogância nunca mais voltarão. Por fim, quanto aos espíritos que tiveram a má-sina de serem, quando encarnados ao tempo do Cristo, os agentes diretos de Sua crucificação… Que ninguém saiba dos séculos de horrores que tiveram de suportar, até se sublimarem e se ressarcirem ante a própria consciência.

Se você se põe contra quem está a serviço de Deus, e tudo corre bem, ainda assim, em sua vida, cuidado! E se você diz que não está entre estes, porque no “seu julgamento” você só “fala mal de quem não presta, portanto sendo justo em seu juízo de valor”, cuidado mais ainda! Os julgadores-executores de Jesus, como de Joanna D’Arc – a herética menina-mulher que dizia ouvir vozes do Além, vestia-se de homem e dizia ser um soldado diretamente enviado de Deus (quanto atrevimento!) – também assim pensaram, logo após sua execução, em praça pública, e terminaram seus dias entre loucura, desespero, suicídio e toda ordem de desgraças constituídas, como intróito de padecimentos ainda mais atrozes na outra dimensão de vida. A velocidade do carma – ou seja: sofrer logo o resultado do mal que se fez – é um mérito dos que já estão mais sintonizados com as Forças do Alto. A maior parte dos que atacam gratuitamente os embaixadores do bem sofrem carmas posteriores, tão mais violentos, quanto mais demorados, nesta mesma vida ou em outras.

Curioso notar exatamente isto: quem ataca acha que faz o bem, que “desmascara” um hipócrita ou um velhaco, quando, muitas vezes, está-se apenas hipertrofiando falhas diminutas, sob efeito poderoso do preconceito. Dizem-se “sinceras” e crentes em Deus e, com isso, deduzem que estão do “lado de Deus”. Assim pensaram também as classes sacerdotais de Isarael, que levaram Jesus à cruz…

Por fim, se você, para completar, foi beneficiário de um desses indivíduos e se exasperou por ele não ter correspondido às suas expectativas de santidade (dele, é claro) ou de vantagens pessoais (suas, é claro) assim atacando-lhe o caráter às costas ou prejudicando-lhe o trabalho que não é dele, mas sim de Deus, seu demérito é assustadoramente maior (e que Deus se apiede de você), porque se soma a ingratidão à sua injustiça, o que faz com que as leis indefectíveis de causa-e-efeito se voltem com maior violência ainda contra a fonte da calúnia ou da difamação, tão mais violentamente quanto mais esforçada for a pessoa atacada, no sentido de se colocar a serviço de Deus, apesar de humana e portadora de naturais falhas humanas.

Fica, assim, registrado, o alerta seriíssimo, para os que vivem nos dias de agora: talvez você hoje ande crucificando Jesus, na pessoa daqueles que não têm como se defender, ou daqueles que não lhe deram o que você queria deles, que não corresponderam à suas exigências caprichosas. Talvez Jesus contorça-se na cruz ainda hoje, por sua causa, perdoando-o por não saber o que faz (sem que o débito lhe seja eximido, porém, ante as Leis da Vida) assim como a criança pequerrucha na estrebaria, ainda agora talvez emita seus vagidos inaudíveis, por seu desprezo e indiferença. Atacar representantes do Alto é o mesmo que atacar as próprias Potestades do Céu, quando indefesas em baixo, na Terra… Imagine-se o horror que isso significa em dívida moral!

O Cristo segue entre nós, místico, oculto, cifrado, mas, a despeito de tudo, entre nós. Atente-se, porque, como Ele mesmo disse, está, principalmente, naqueles que mais costumam inspirar desprezo ou asco. E, se estes, apesar de portarem aspectos que você não entende ou francamente com que não concorda, ainda assim seguem como “vozes do Alto”, fazendo o bem a multidões de aflitos, mais cuidado ainda, porque o seu débito moral aproxima-se das raias do infinito (na mesma medida em que põe em risco o bem a tanta gente) e você pode estar programando entornar, sobre si, um caldo medonho de carma, não importando se se sinta tão seguro e forte como o Império Romano, ou tão “do lado de Deus”, como a cúpula de Israel… (vimos o que aconteceu com aqueles dois povos)… carma este sabe lá Deus para quando cessar, sabe lá Deus a que custo para sua alma, que, então, merecerá nossa piedade e nossas preces de misericórdia…

(Texto recebido em 25 de dezembro de 2004.)

(*1) Mateus, Marcos, Lucas e João.

(*2) Eugênia alude à Diáspora, que aconteceu no ano 70 de nossa era, que constituiu terrível chacina da nação israelita e retirou o território ao povo judeu por dois mil anos.

(*3) Agora, Eugênia faz referência à criação moderna do Estado de Israel, em 1948 e às deploráveis condições políticas da região até agora.

(Notas do Médium)