Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Confuso, diante de certas surpresas negativas no exercício com a mediunidade, eis que, sábia como sempre, Eugênia me disse, como transcrevo abaixo, pela utilidade geral para todos, quando nos sentimos “delisudidos” com a assistência que recebemos de nossos mentores espirituais. Dor, angústia e loucura, confusão, desespero e pânico são algumas das palavras que podemos utilizar para o período de desenvolvimento e iniciação dos médiuns, sobretudo os que terão maiores responsabilidades com a condução de coletividades (são testados ainda mais severamente, sem piedade ou concessões confortáveis). Sem dúvida alguma, um período de sofrimentos morais e psíquicos tão profundos e extensos que não desejaria ao meu pior inimigo, a ponto de termos horror de existir e sentir o nada se nos avizinhar e nos possuir, como num teatro sinistro de desespero, um estado de pesadelo continuado que nos parece o inferno em plena vida física… O Credo católico, nesse ponto, está cheio de razão: “(…) Desceu à ‘mansão dos mortos’ (e, somente após isso), ‘ressuscitou’ ao ‘terceiro dia’ (…)”. Só que, simbólico, esse período de três dias pode durar, no mínimo, três anos – quando rápido. Três reencarnações ou Três Milênios (mais provável): o que está, de fato, por detrás dos três anos de agora. Por isso, para os que supõem a mediunidade um passeio divertido num jardim encantado, cheio de anjos e maravilhosas revelações, pediria que realmente desistissem de qualquer intento de abrir suas percepções, mais do que já estejam abertas, assim como ninguém poderia se aproximar do intento de ser cirurgião, sem aguardar longos anos de estudo enfadonho, vestibulares difíceis, desde a introdução na faculdade de Medicina até a especialização médica em práticas cirúrgicas, sem contar todo o exercício profissional da medicina cirúrgica, recheada de sangue, víceras e instrumentos metálicos de cirurgia, em horas infindáveis, consecutivas, em trabalho meticuloso e sério, de que se espera que nunca se cometa erros. Supor que canalizar sábios do plano espiritual seja menos que isso é, no mínimo, ingenuidade, senão, francamente, irresponsabilidade e falta de consciência e de espírito de conseqüência. Quem quiser trabalho pesado, duro, difícil e continuamente desafiante… então, pode se candidatar ao serviço de preposto do mundo “invisível”, e se preparar para o tranco (vários trancos, no correr de muito tempo), estudar muito e contar com pouco, muito pouco estímulo positivo a prosseguir no intento. Por fim, gostaria de acrescentar que, quando, no título desse artigo, chamei de “magnificamente aterrorizantes” as “vozes” dos verdadeiros sábios do além, quis dizer que são aterrorizantes apenas para os aspectos mesquinhos, egóicos, imaturos e indesejáveis de nossa personalidade, por isso sendo “magnífico” que sejamos consumidos nesses traços e faces de nós mesmos, a fim de que ressurjamos luminosos e maduros, após a travessia difícil do amadurecimento psicológico e moral. Seguem, então, as palavras de Eugênia.

Você nunca entenderá completamente meus propósitos, quando lhe estiver dando uma resposta ou lhe fazendo uma sugestão. Para compreender melhor quem sou na sua vida, recorde-se sempre da imagem do professor, ao reverso de me entender como uma colega de jornada. Não estou aqui para dar “colas”, na lição a ser aprendida, nem mesmo a lhe dar a informação pronta, para que assimile, como fazem alguns professores de baixa qualidade profissional. Minha intenção, como na clássica escola dos professores iniciáticos, é ensinar meu discípulo a pensar, a ler o mundo e tomar decisões conscientes, por si mesmo, o mais acertadamentes quanto possível. Para isso, preciso testá-lo, deixá-lo confuso, interrogá-lo, encurralá-lo, propeli-lo a crises, a vórtices de angústia e medo, para que saia deles fortalecido e, principalmente, amadurecido.

Quando se dirigir a seus orientadores espirituais, nunca suponha que encontrará amas-secas cheias de leite espiritual para dar. Eles não o querem um bebê, mas uma alma lúcida, um caráter firme, um espírito consciente do que quer e para onde vai, do que é e do que precisa para si e para realizar seus propósitos de vida.

Não pense que lhe darei respostas prontas para nada. Não é essa minha função. Não pense que sou uma fonte de verdade construída. Para lhe dar verdades prontas, teria que torná-lo pronto, e você é um ser em processo de construção; e, mais que isso: em processo de auto-construção. A interação com o mundo invisível, além de todos os percalços das intromissões indevidas do inconsciente do próprio médium e da interferência de inteligências perturbadoras, frívolas ou perversas, conta ainda com o desafio de todos os paradoxos fomentados pela sabedoria dos líderes genuínos do Além, os verdadeiros sábios, que agem como preceptores severos e não como pais viciados em mimar os filhos. Eis porque poucos “agüentam” o período de iniciação e fogem espavoridos com as aparentes incongruências que encontram no caminho de desenvolvimento e abertura de seus canais mediúnicos. E isso é bom. Felizmente, para agir lucidamente como médium, o espírito do médium deve ser lúcido também. Para agir sabiamente como intermediário dos sábios “do outro mundo”, o porta-voz da palavras dos imortais, em certa medida, terá que ele mesmo se converter em um sábio, ou, simplesmente, distorcerá todo o conteúdo das comunicações, que é responsável por traduzir coerentemente, já que não usamos os médiuns como aparelhos de comunicação e sim como embaixadores, vivos e livres, com direito a apôr suas opiniões e seu modo de ser ao que lhe pedimos seja transmitido ao mundo físico.

(Escrito e transcrito em 2 de maio de 2004.)