Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Queridos amigos do ideal espiritista:

Que Deus, em sua infinita bondade, nos abençoe a todos, hoje e sempre.
Venho aos prezados amigos disposta a discorrer em torno de um tema em particular. Espero possa ser completa em minhas reflexões, de modo a que seja bem entendida, nas cogitações complexas que farei, muito embora esforçando-me por ser o mais sucinta e clara quanto me seja possível e me permita a temática.

O tópico que desejo abordar é o Espiritismo, em seus entrelaçamentos imbricados com a ciência psicológica.

Há muito mais de um século, a polêmica se vem fazendo, a respeito do que seja de fato o conjunto de fenômenos estudados pelo Espiritismo. Até hoje, há quem sustente, veementemente, tratar-se a paranormalidade e congêneres de uma mera expressão de vetores do próprio inconsciente, de forma que não deveríamos compreender tais fenômenos como comprobatórios da imortalidade da alma.

A psicologia profunda, então, ao nos trazer elucubrações bem mais abstratas, mais adequadas à extensão e complexidade de fenômenos decorrentes do psiquismo humano, sugeriu uma série de possíveis explicações alternativas, para as experiências místicas, incluindo nesta categoria, a grosso modo, atividades meditativas, oracionais e as expressões diversas da intuição humana.

Urge reconhecer, entrementes, que muito embora possamos entender tais realidades psíquicas intrincadas como, em muitos sentidos, oriundas do fundo do próprio inconsciente, não só em seus aspectos individuais, mas também nos coletivos, não podemos nos esquecer de que determinados feixes de fenômenos paranormais e místicos não são passíveis de explicação plausível, a partir da perspectiva materialista, por mais elaborado que seja o raciocínio, exigindo que pesquisadores apelem, para que sejam completa e razoavelmente explicados tais ocorrências, à hipótese espírita de sobrevivência da psique humana e de seu poder de comunicação com aqueles que permanecem jungidos a corpos de carne.

Entre estes fenômenos extraordinários, podemos considerar o das materializações de espíritos despojados de corpos físicos, que provisoriamente ostentam indumentária orgânica visível e tangível, para qualquer observador (e não apenas para sensitivos), demonstrando, através de tal evento espetacular, autonomia, opiniões e valores próprios; em suma: uma personalidade livre, com seus preconceitos, idéias e desejos, cacoetes e características personalíssimas, inteiramente independentes e diferenciados da personalidade do médium e seu conjunto de idiossincrasias.

Alguém ainda poderia aventar, nesta área de estudos, a hipótese de uma manifestação materializada do inconsciente do próprio médium ou dos circunstantes, no momento da experimentação. Entretanto, seríamos pecar por excesso de zelo com a ótica materialista, construirmos teoria tão forçada, se é tão óbvia a personalidade autônoma do espírito materializado. O princípio da parcimônia (*1), que rege toda pesquisa científica séria, está sendo ignorado grosseiramente, por razões neuróticas e, portanto, tendenciosas, de seus proponentes, assim fazendo-os ficar longe do pensamento genuinamente científico, ao inclinarem conclusões, conforme desejos e prevenções pessoais, e não como resultante direta da análise imparcial dos fatos.

A tese espírita (ou sobrevivencialista, como chamam alguns estudiosos), de modo algum denega os princípios de objetividade e de isenção de ânimos do bom pesquisador. Muito pelo contrário: aqueles que defendem a proposta concorrente, de que toda a gama de fenômenos estudados pela parapsicologia e pelo espiritismo constituiriam meras expressões do inconsciente, é que parecem incorrer na falta de precisão e de imparcialidade em suas observações.

Diante disto, mister reconhecer, outrossim, que não somente o fenômeno de materialização é grandiloqüente em seu poder comprobatório da imortalidade da alma, podendo, aliás, constituir manifestação muito mais rudimentar de um universo de realidades mais sutis, e por isso muito mais apropriadas, uma forma de abordagem mais delicada, para que possa haver uma pesquisa acertada e bem concatenada, para o patamar de complexidade do evento da sobrevivência pós-mortem. A psicografia, por exemplo, propiciando a canalização de mentes livres, com toda sua “carga” de autonomia, proprietárias de seu conjunto pessoal de crenças, aptidões e necessidades, revela um campo de pesquisa semelhante ao das materializações, a despeito das interpenetrações inevitáveis dos comunicantes com a mente medianeira, interferências estas, todavia, que podem ser alijadas, embora com dificuldade (por quem seja experimentado na atividade), com filtros gnosiológicos adequados, pré-programados para tanto, assim como, em laboratório, procede-se à decantação de detritos de uma solução instável. Se observarmos, com critério, determinado médium operante, nas tarefas de psicografia, o tempo, conjugado à análise, mostrar-nos-á, claramente, tratar-se o fenômeno de uma manifestação direta de inteligências de outra dimensão de vida que não a física, já que, por mais que se pretenda apelar para a atuação do inconsciente, dia virá em que o pesquisador, seriamente comprometido com o espírito de imparcialidade, em suas avaliações, será forçado a admitir que não é possível existir tamanha multiplicidade caleidoscópica e singularidade em cada entidade manifestante, a não ser em aceitando a conclusão da sobrevivência do espírito à morte do corpo; notando, a reboque, na psicografia, um exemplo inequívoco da comunicabilidade entre vivos e chamados mortos, mortos apenas na matéria, mas muito mais vivos no espírito.

É hora de sermos sensatos e pararmos de questionar o que é auto-evidente. Axiomas – princípio fundamental da lógica e da filosofia – não são discutidos. A exemplo do amor dos pais pelos filhos, que não pode ser provado, na retorta de um laboratório ou num estudo matemático complexo, não podemos tratar o fenômeno mediúnico e espiritual de forma diferente. Que a humanidade é assistida por gênios do mundo espiritual é óbvio, um truísmo arquimilenar, que nunca foi questionado pelos povos da Antigüidade, e que deveria ser levado a sério, igualmente, por sociedades ditas civilizadas, tendo em vista que, de modo algum, a ciência e o pensamento racional (que por sinal apenas engatinham, nos seus primeiros séculos de vida) desmerecem a existência de um mundo além-fronteiras das percepções diretas dos cinco sentidos. No exato inverso sentido, a verdadeira ciência, como tão bem tem sido demonstrado, no último século e meio, corrobora, como razoável, esta ordem de conjecturas, revelando ela mesma a existência de outros domínios da realidade, além da dimensão física de existência.

Portanto, prezado amigo, se você se sente incurso na reflexão sobre a existência ou não do mundo espiritual, considere que se trata muito mais de um assunto de maturidade psicológica e de sabedoria (experiência assimilada e aplicada), do que, propriamente, de informação científica, posto que o espectro de atuação da ciência, com seus limitadíssimos instrumentos de sondagem, não poderá, tão-cedo, de forma objetiva e direta, provar a existência da vida após a morte. Se sua mente é psicológica, moral e intelectualmente madura, naturalmente apreende a realidade espiritual, do mesmo modo que compreende que o amor por seus pais, filhos e demais entes queridos, é real, de tal modo que não carece de provas de sua existência.

Seres bondosos e sábios – esteja certo disto – muito mais desenvolvidos que a média evolutiva da humanidade terrícola; e outros, em patamares tais de envergadura evolutiva, que nem sequer podem ser objeto da especulação e da engenhosidade da imaginação humanas, supervisionam e interferem, efetivamente, no jogo das circunstâncias, como tantas provas qualquer bom observador pode ter, dos pequenos milagres da “sorte”, às sincronicidades espetaculares de curas extraordinárias e soluções do impossível, agindo no dia-a-dia de todos os seres humanos, favorecendo-lhes a felicidade e o progresso.

Atenda agora, à sua profissão de fé, e ore, com confiança e ardor, pela assistência de seus mentores e guias espirituais, cônscio de que, se estiver receptivo, receberá alvitres silenciosos, audíveis todavia à acústica de sua alma e na câmara oculta de sua consciência, sugestões estas que pode você entender como intuições, ideais ou avisos dos anjos. Seja como for, deve você, se não quiser amesquinhar sua vida, estabelecer um contato direto, ainda que limitado e imperfeito, com seu anjo guardião ou com a “voz de Deus” para você, através da ausculta criteriosa de sua própria consciência.

Pela vibração da paz, identificará facilmente esta “voz”, em meio à cacofonia de outras vozes mentais, sejam internas ou externas, que vibram diuturnamente, no seu psiquismo, quais turbilhões, de angústias e de conflitos, atritando-se entre si, esgotando-o e angustiando-o. É hora de fazer, assim, do culto da oração e da obediência à intuição uma regra dúplice permanente em sua existência, uma norma de conduta que lhe propiciará atingir níveis de excelência, de felicidade e de paz, por ora inimagináveis a você.

Leve adiante esta mensagem, traga-a consigo em seu coração, e, sobremaneira, viva-a, com o fervor de quem sabe tratar-se de imperioso dever de quem quer que se diga cristão ou espírita. E se você não se posiciona em uma ou n’outra categoria, cuidado! Em nome da dúvida, demônio maior da modernidade, muita gente nega, para si mesma, a entrada no paraíso do alinhamento com Deus, Sua infinita bondade e a perfeita felicidade que decorre de se estar conectado a Ele-Ela.

Medite e estude. Não estará esta estrada, complexíssima e sutil, de alinhamento com o próprio núcleo central e espiritual do Ser, livre de escolhos e percalços perigosos, obstáculos difíceis de serem transpostos e adversidades medonhas, principalmente dentro do próprio fundo escuro de nosso passado milenar na animalidade prístina. Todavia, com estudo e empenho sistemáticos, buscando orientadores abalizados, e pela disciplina permanente aos métodos apropriados ao uso destes canais ocultos de comunicação espiritual, e, principal e concomitantemente, pelo esforço contínuo de melhoria sentimentos e de sintonia com os ideais de altruísmo, de paz, de solidariedade, de serviço cristão, capacitar-se-á a estabelecer a conexão com os tais gênios ocultos do bem, que representam Deus para a humanidade.

“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, disse-nos Jesus. Conheça a sua verdade pessoal, afine-se com ela, conviva com ela, evoque-a sistematicamente (porque ela nunca se imporá, porque o bem nunca se impõe, só se propõe, orienta: nunca comanda) e estará você, através deste exercício salutar e sagrado, capital e transcendente, de espiritualidade e fé, candidatando-se a altos postos de excelência, paz e sabedoria, na sua própria vida e na daqueles que estiverem dentro do seu círculo direto ou indireto de influência pessoal.

Sirva a Deus, na pessoa do seu semelhante; seja um digno representante do Criador, para o seu próximo, o mais próximo ou o mais distante, e estará você, por meio desta permuta axial de sabedoria e de amor, nas entranhas mais profundas de sua alma, adejando, seguramente, em direção à plenitude e a um nível de bem-aventurança (de felicidade) que nem de longe agora pode você imaginar.

(Texto recebido pela audiência mediúnica (*2), em 19 de abril de 2005.)

(*1) Princípio que propõe que, se existem, para a explicação de um mesmo fenômeno, duas teses alternativas, deve-se optar pela mais simples, já que a natureza e suas leis, em todos os seus níveis de manifestação, desde o micro ao macrocosmo, do plano das sub-partículas ao campo das órbitas e movimentos astrofísicos, sempre se manifestam por princípios igualmente econômicos de organização.

(Nota da Autora Espiritual)

(*2) Eugênia ditou, para minha psico-audiência, o pequeno discurso acima. Fui repetindo, palavra a palavra, para um gravador portátil, transcrevendo, em seguida, o que foi “vazado” pela mestra desencarnada.

(Nota do Médium)