Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.

Não pretenda ser coerente: seja feliz! A vida é complexa demais para caber em esquemas pré-estipulados de verdade. Flua com o momento, ou estará se fechando aos parâmetros de percepção e conhecimento de um dado nível evolutivo, dificultando o processo de progresso contínuo a que está fadado. Além do quê, o que se afigura incongruente em uma faixa de organização é extremamente simétrico e lógico no grau seguinte de complexidade. A incoerência de um momento, portanto, é o fator propulsor a se projetar do passado em direção ao futuro. Ou seja: fica-se incoerente em relação a um padrão de valores do ontem, para que se possa mover, no presente, pelo parto da transição, rumo ao nível de coerência de um estágio superior de complexidade.

Muitas pessoas, à guisa de não se contradizerem, de se mostrarem lineares e previsíveis, preferem contrariar sua natureza e lesar a própria alma, violentando-se para seguirem preceitos, pressuposições de verdade, preconceitos e estipulações sociais de valor. Assim, mais por vaidade, para não ferirem seu orgulho, para não macularem uma imagem por que são ciosas, preferem adulterar e trair a própria consciência, a fim de preservarem as aparências, para si e para os outros, de uma virtude puritana e essencialmente falsa.

Deus está no movimento, na transformação, na revolução de valores e conceitos. Sim, Ele também está na conservação de conquistas pretéritas, mas como um continuum transformacional que conduz a patamares superiores de ordem que, para serem alcançados, exigem a fase de caos, o caos que compele à busca de uma homeostase cognitiva mais profunda, numa ordem implícita à desordem, numa esfera mais alta de expressão.

Não se preocupe em não dar o braço a torcer: torça até mesmo seu espírito. Dobre seu orgulho, suas vaidades vãs, seus medos, suas dúvidas, e se entregue à Vida, de corpo e alma abertos. Sendo corajoso, sem fugir de enfrentar a si mesmo, plenamente, os pesadelos mais cruentos se convertem em sonhos realizados, os pandemônios mais medonhos em visões do Éden, os infernos mais escaldantes e inextricáveis em magníficos e paradisíacos jardins existenciais…

Claro que, com isso, não estamos sugerindo posturas temerárias e irresponsáveis, mas que se tenha um pouco mais de ousadia e vontade de viver, sem tantas castrações, medos e ilusões sobre bem e verdade. O que não propele à vida, não pode ser de Deus: resumamos a moral dessa forma.

Hoje é seu dia de ser feliz. Não amanhã ou n’outra vida. Agora é seu tempo, mesmo porque não existe outro tempo que não seja o eterno presente. Resolva-se no capítulo do fundamental: sintonize-se consigo mesmo, alinhe-se com seu centro, coloque-se no eixo de si próprio.

Não procure alhures o que está dentro de si. Você deve ser feliz, ou não estará com Deus. Você deve estar cheio de amor, ou não estará no caminho da verdade e do bem. Você deve ser plenamente você, ou nunca conseguirá transcender a condição de miséria e limitação humanas.

Esteja além de seu tempo, além de suas presunções de verdade, além do que julga possível. Ligue-se a Deus, seja amor, e o resto, esteja completamente convencido disso: virá em acréscimo…

(Texto recebido em 16 de maio de 2002.)