Benjamin Teixeira
pelo espírito
Anacleto (*).

A ruptura paradigmática fundamental não está no campo das revoluções científicas, filosóficas, ou mesmo na total renovação dos valores morais, sociais e espirituais: acontece com a criatura, no âmbito sutilíssimo da relação com sua própria identidade.

Esquecer-se de quem se é, para se tornar o que se pode ser: eis a chave da transformação axial. Desconstruir a própria personalidade, para reformulá-la, conforme a potencialidade latente no inconsciente. Olvidar exigências de papéis que se desempenhem, dos profissionais aos familiares e culturais (de nação, classe, sexo ou idade), avançando para os parâmetros imprevisíveis e fertilíssimos do desconhecido, os padrões ignotos das sementes adormecidas do pensar, sentir e agir, alojadas nas entranhas mais profundas do próprio psiquismo.

Observe-se esta precondição, assinalada ao fim da última sentença: “conforme potencialidade latente no inconsciente”, ao que se deve adicionar, para melhor clarear a difusa temática: em seus estratos mais nobres de germinação superior, de ordenação mais complexa da estrutura psicológica. Ou seja: não uma expressão atabalhoada do que exista, subdesenvolvido, no inconsciente – muitos destes potenciais, inclusive, indesejáveis e mesmo perigosos –, mas a manifestação de conteúdos que condigam a esboços do ser mais lúcido, profundo, maduro e sábio em que se deve tornar, pelo processo evolutivo, e no que, paradoxalmente, ser-se-á compelido a se converter, ainda que outras subpersonalidades espectrais do inconsciente assumam, provisoriamente, o comando da individualidade, desviando-a de sua rota mais propícia de crescimento (apenas, fazendo o percurso evolucional mais sinuoso, demorado e doloroso).

Esta quebra de conceitos, de pressuposições de verdade, de estruturas de valores (e suas hierarquias de importância), não pode se dar em função de expectativas externas, por mais dignas ou acertadas, mas, sim, de acordo com necessidades de amadurecimento e realização subjacentes, no imo da própria criatura. No centro do ser, jaz o poder e a glória, para realizações prodigiosas, assim como, no âmago do átomo, reside o potencial gigantesco da energia nuclear.

(Texto recebido em 17 de março de 2008. Revisão de Delano Mothé.)

(*) Ele reencarnou como Epicuro e, mais tarde, como Sêneca; é mestre de Eugênia. Creio que não se precisa dizer mais nada a seu respeito, para facilmente se lhe compreender o porquê da profundidade e complexidade de pensamento.
(Nota do médium)