Carrie Fisher

Ela representou, nas telas, o papel de uma antiprincesa, se é que assim podemos dizer. Nada da donzela passiva e desamparada, dependente de socorro externo (diga-se: de um homem) para se posicionar diante da vida e seus desafios. Dona de suas opiniões, líder de uma resistência do bem contra poderosas figuras masculinas do mal. Fez-se icônica, na paradigmática série “Guerra nas Estrelas”, que antecipou e favoreceu a revolução espiritual que hoje acompanhamos como tendência histórica irreversível: a da Espiritualidade desvinculada de religiões formalmente organizadas.

Ele, por sua vez, galã da música popular internacional, famoso por sua fascinante virilidade, foi revelado homossexual, fato que ajudou a romper, no mundo inteiro, as estruturas viciosas de preconceito, que associavam e ainda associam homens gays a atitudes caricaturais e bizarras de feminilidade degradada…

Dois grandes vultos legendários, de uma mesma geração, arautos significativos do combate ao machismo dominante, vindo a óbito precocemente (Fischer com 60 anos, Michael com 53), numa mesma semana!… Compreender tal evento como meramente aleatório seria declarar renúncia pessoal ao rigor lógico das probabilidades matemáticas!

Vivemos num mundo de significados simbólicos. O inconsciente coletivo, rico de potencialidades e de manifestações públicas e privadas de arquétipos que o compõem, eclodiu, em seus complexos movimentos de transformação, fomentado, com essas duas mortes inesperadas e a dolorosa vacuidade psicológica que tais personalidades emblemáticas deixaram após sua partida, a reflexão sobre os dramas de urgência da ascensão da feminilidade, para a resolução de intrincados, enraizados e profundos problemas da humanidade, a ponto de haver ameaça à sua sobrevivência no orbe.

Cabe lembrarmos, reforçando muito a tese aqui apresentada, que, ainda neste ano (em janeiro e em abril), houve outros dois falecimentos (em idades igualmente consideradas precoces) de personagens lendárias de grande influência mundial, no mesmo campo do embate com os modelos machistas e asfixiantes da feminilidade. O primeiro, aos 69 anos, com aguda atuação na luta contra a tirania da masculinidade desprovida de humanidade e castradora da sensibilidade: David Bowie, que, além de seu brilhantismo artístico óbvio, foi um precursor audaz e destemido da libertação, para quem o deseje, do paradigma binário da identidade de gênero… E o segundo, aos 57 de idade, outro polêmico e andrógino megastar: Prince, que dispensa comentários quanto ao talento revolucionário para a música do século XX, bem como no que concerne às suas atitudes confrontadoras do “establishment” patriarcalista.

Quando celebridades, com feições míticas de efeito sobre a multidão, desaparecem repentinamente (pelo decesso carnal), poderosa fermentação ou catálise de processos evolutivos acontece no plano de fundo do inconsciente das massas, acelerando a superação de formas específicas de opressão cultural, relacionadas à área de atuação desses indivíduos e ao que eles representavam aos olhos das comunidades humanas espalhadas pelo globo.

Aguardemos o que o futuro nos reserva, após este fatídico 2016, que teima em não terminar, qual se, em sua agonia desesperada e prenhe de ímpetos malevolentes de rebelião, lançasse tentáculos destrutivos em todas as direções… a exemplo da expansão do extremismo populista, retrógrado e perigoso de “direita”, que se alastra pelas nações ditas mais desenvolvidas, expressão funesta de uma masculinidade degenerada e genocida, bem retratada nas figuras de Donald Trump e Vladimir Putin, lídimos representantes do sério risco que a humanidade terrestre atravessa nos dias que correm…

Que as forças do Bem, em Nome de Deus, inspirem-nos a fazer o melhor, nesta época de crise planetária de gravíssimas e imprevisíveis consequências, protegendo-nos, amparando-nos, conduzindo-nos ao porto seguro de uma nova era de confraternização universal, em que as minorias e as diferenças de indivíduos e povos discriminados (não raro explorados) serão, de fato, observadas com respeito ou, ao menos, com compaixão, de modo que seja assegurado a todas as pessoas o direito inalienável de existirem e sobreviverem em padrões razoáveis de dignidade, direito esse inerente a qualquer ser humano, não importando raça, etnia, nacionalidade, gênero, identidade de gênero, orientação sexual, grupo cultural ou linguístico, religião ou filosofia de vida…

Ou todos(as) têm garantido o direito à liberdade e à vida, com um mínimo de dignidade, ou todos(as) mergulharemos no caos, no desespero… e na destruição da civilização humana na Terra…

Benjamin Teixeira de Aguiar e Amigos(as) Espirituais
New Fairfield, Connecticut, EUA
29 de dezembro de 2016