Jesus

Benjamin de Aguiar,
pelos Espíritos
Elvira e Eugênia (*1).

Ao tempo de minha última encarnação, era sacrílego especularmos sobre uma separação conjugal – desencarnei na metade do século passado e vivi numa Aracaju com menos de 100 mil habitantes, em regime semifeudal de moralismo e organização social, inobstante pacata e pacífica. E, se “largar o marido” representava a “rua da amargura”, cogitar de afastar-se de pais ou filhos era de todo impensável, uma aberração moral completamente incompreensível, já que “ser mãe” era “padecer no paraíso”.

Curiosamente, íamos à missa impreterivelmente, todas as semanas. Mas, naquela época, em que o sermão era recitado todo em latim, não acompanhávamos muito a importância que Jesus deu à provação máxima que o indivíduo enfrenta, quando realmente inicia um processo de despertar espiritual: a de desligar-se de entes familiares da parentela biológica – apenas aparente o pleonasmo: podem-se ter como familiares pessoas não vinculadas geneticamente ao nosso tronco biológico de origem carnal.

Foi a partir de tais ditames do Cristo – expostos claramente em Seus Evangelhos – que uma série de dogmas (embora não pretendamos aqui defendê-los, mas apenas lhes estudar a etiologia) surgiram na Igreja Católica, como a obrigatoriedade do celibato para religiosos ordenados, a mudança de nome ao se adentrar a vida religiosa monástica (ou não) e mesmo a clausura (para alguns), de modo a que se evitassem os contatos com os parentes consanguíneos, considerados elos com o mundo material de que se precisava apartar-se.

Psicologicamente, por outro lado, hoje se sabe que personalidades maduras não veem pais como pais, nem filhos como filhos, e sim como seres livres, que têm predileções, tendências e gostos próprios, que urgem ser respeitados. Mais ainda, de reversa maneira: não podemos, em nome de liames de consanguinidade, permitir que os nossos próprios interesses, valores e prioridades de vida sejam desacatados e invadidos, ofendidos ou (muito menos) dilapidados.

Os Evangelhos de Jesus são cheios demais de exortações sobre exatamente o que falamos, para que precisemos citá-los. Mas, para não passarmos em branco nesse item fundamental de respaldo às nossas ideias, em respeito aos menos letrados nos Textos Sagrados, lembremos apenas aquele episódio bíblico em que o Mestre disse: “Quem é Minha Mãe e quem são Meus irmãos?”, quando intentavam calá-l’O à força. E, apontando para os que estavam à Sua volta, asseverou: “Estes são Minha mãe, Meus irmãos e Minhas irmãs, porque fazem a Vontade de Meu Pai, que está nos Céus.” A repreensão do Cristo foi, em verdade, um elogio disfarçado dirigido a Maria Santíssima, visto que ninguém cumpriu, quanto Ele e Ela, tão fielmente, sobre o orbe, a Vontade de Deus, e Sua Mãe ali estava, acompanhando os “irmãos” (*2) de Jesus (que pugnavam por demovê-l’O da “vergonha” que causava à família, com aquelas pregações que contrariavam as tradições judaicas), numa clara atitude diplomática, como tanto o fazem as mães sensíveis, tentando “pôr panos quentes”, na desavença entre os parentes. Afora o louvor velado Àquela que O concebeu, importa considerar o mais relevante: Nosso Senhor continuou Sua prédica, e simplesmente deu as costas aos parentes biológicos que se opunham ou se incomodavam com Suas Falas, enquanto Maria de Nazaré continuou a segui-l’O, até o momento de Sua Crucificação no Calvário.

Se observarmos a hagiografia católica ou mesmo a história dos grandes mestres espirituais do Oriente, encontraremos histórias semelhantes. São Francisco desobedeceu às regras do pai, Santa Clara fez o mesmo, Santa Rita desatendia aos comandos do marido, Confúcio amargou a maior decepção com seu filho único, Chico Xavier, quando já estava próximo dos 50 anos de idade, abandonou a família, a cidade natal e os amigos de trabalho espiritual, incluindo 14 sobrinhos que ajudara diretamente a criar… Os exemplos são intermináveis…

E, na história da psicologia moderna – voltando à base mais científica do assunto –, temos Freud a falar da complexidade dos traumas infantis, gerados por pais ignorantes ou inconscientes, e Jung a declarar que o indivíduo que amadurece com o corpo, e não só envelhece fisicamente, afasta-se espontaneamente de seu núcleo biológico de origem, para unir-se a seu grupo de afinidades psicológicas e culturais.

Hoje, o Espírito Eugênia pediu-me que lhes falasse isso, pois fui exemplo de mãe, esposa e filha, aos moldes antigos: da submissão, do silêncio e do sacrifício oculto, na forja “santificante” do lar. Tanto que um mito familiar criou-se em torno de minha pessoa, na condição de uma nítida (para eles) “santa do anonimato”, venerada até pelos inimigos da família… Embora tentasse, sinceramente, seguir o que julgava correto à época, com esforço religioso (*3), pergunto-me agora, publicamente: seria isso mesmo a santidade, o caminho da iluminação? Abaixar a cabeça aos caprichos alheios, em vez de fazer valer a voz da própria alma, a voz de Deus ecoada em nosso mundo íntimo?

O paradigma moderno, entretanto, é outro, e, graças a Deus, facilita que mulheres e homens compreendam melhor o delicado do tema. O que é que se deve sacrificar realmente? Sem dúvida, a obediência às convenções ou ao que se espere de nós (não importando donde provenha essa expectativa: do seio familiar, do meio profissional ou mesmo religioso), e nunca o atendimento aos reclamos da própria consciência.

Com isso, não postulamos que nos tornemos rebeldes, em nome de um individualismo exacerbado, mas tão só que escolhamos a consciência, acima de tudo… de tudo mesmo!

Nesta era, em que tantos partem do aconchego doméstico, ouvindo a voz do ego, do orgulho, da vaidade, da cobiça por fama, fortuna ou poder, quando não d’outras paixões bestiais que não valem ser nominadas (para esses, sim, melhor seria que ouvissem os alertas dos que, ao menos por instinto de proteção dos semelhantes geneticamente, tentam protegê-los do pior), a decisão de seguir a rota traçada pela própria consciência (realmente a voz da consciência) é o suprassumo do que se pode esperar de um ser humano a caminho de uma Nova Humanidade, proposta por Nosso Senhor e Mestre Jesus, há 20 séculos.

E, como acabamento – aqui quase “ipsis litteris” repetindo as palavras da Mestra Eugênia –, o que seria, de fato, a voz da consciência? Comecemos pelo que ela não é. Não é a voz do moralismo dominante, não é a voz do “superego” (a voz condenadora interna – seja engendrada pela cultura, seja pelas “vozes parentais introjetadas”), nem mesmo a voz de grupos de apoio, com que a pessoa se afine, mas, sim (e aqui aduzimos um contraponto até Jung – risos, de Eugênia, porque compreendo pouco do assunto), a repercussão dos Desígnios de Deus, na supraconsciência do indivíduo, nos estratos mais altos da nobreza de sua alma, em forma de vocação, amor genuíno e ideal. Sem isso, o coração de uma criatura jazerá vazio, candente como uma fornalha infernal ou gélido como um iceberg colossal, desdobrando, por consequência, toda uma série de distúrbios, desde a compulsão a vícios, desequilíbrios de ordem psiquiátrica, até tendências criminógenas, em semente nos primeiros anos de suas existências atuais.

(Texto recebido em 21 de março de 2011.)

(*1) Mais uma vez, a nobilíssima Mestra Espiritual, responsável por todas as tarefas mediúnicas que se dão por meu intermédio, atuou como supervisora conceitual do trabalho da entidade comunicante, fazendo apontamentos complementares ou corretivos.

(*2) Há uma polêmica no meio cristão, a respeito do significado do verbete “irmãos”, que, em aramaico (um paupérrimo idioma com apenas 600 vocábulos, ao tempo do Cristo), tanto tinha a acepção de irmãos propriamente, como também poderia designar primos. (Para se ter uma ideia da pobreza da língua utilizada por Nosso Senhor Jesus, e de como a polissemia – múltiplo significado das palavras – poderia gerar confusões na comunicação, o Português moderno possui algo em torno de 500 mil verbetes, ao passo que o Inglês alcança a impressionante soma de 1 milhão de termos simples ou compostos, conforme a última estimativa da Oxford University.) Evangélicos e espíritas convencionais afirmam que o texto bíblico faz referência a irmãos de Jesus, de fato, e que Maria Santíssima teria copulado com José, sendo, pois, vulgar a concepção do Cristo da Verdade Divina. Católicos e salto-quantistas, entretanto, asseveramos que não: tratava-se tão somente de primos do Mestre. Maria de Nazaré teve Filho Único: Jesus, que Lhe adveio ao Ventre, por intermédio de uma Gravidez Mística, gerada pelo Arcanjo-Búdico Gabriel, Aquele que A visitou, no instante em que Se fez Grávida do Cristo. A Ciência de hoje já nos mostra como é possível engravidar-se sem coito animal. Imaginemos o que Seres Búdicos, quais Maria Santíssima e o Anjo Crístico Gabriel, seriam capazes de fazer, com seus Corpos-Templos – o d’Ela, físico; o d’Ele, “meramente” Espiritual… O problema, como sempre, está na presunção humana, de tudo querer entender de pronto, sem admitir que algo escape de seu conhecimento ou potencial de inteligência atual. A história, porém, é pródiga em demonstrar o que acontece com esse tipo de petulância estúpida dos pretensiosos: cair no ridículo.

(*3) Ironicamente (em função da temática em foco: parentela biológica – e isso me parece um traço de humor, dentro da impecável sabedoria dos Mestres Espirituais), Elvira foi minha bisavó, pela raiz biológica paterna, e desencarnou exatos vinte anos antes de minha presente reencarnação (1970), no ano, portanto, de 1950, conforme ela mesma disse em seu artigo – desculpe-me o minucioso da fala: considero-o um respeito de satisfação ao público leitor. De fato, por diversos indícios que não cabem aqui ser enumerados, Elvira santificou-se, aos moldes de sua cultura. Vi-a inúmeras vezes nimbada de forte Luz Espiritual, e outra médium, em desdobramento, ao visitá-la fora do corpo, precisou enxergá-la através de uma como que “parede de vidro”, dentro de uma “câmara fechada” (processo usual, no domínio extrafísico de existência, para manifestações de seres muito elevados, em faixas de vibração relativamente mais baixa – o livro “Obreiros da Vida Eterna”, psicografia de Chico Xavier, em nome do Espírito André Luiz, descreve episódio em que uma dessas câmaras é utilizada, para que um Mensageiro dos Altos Círculos do Cristo possa se exprimir diretamente em “Nosso Lar”). Elvira desencarnou ainda relativamente jovem, longe de encerrar a meia-idade, torturada psicologicamente, dia e noite, por um marido mesquinho e tirânico, meu bisavô, que lhe sobreviveu em 17 anos, vindo, dessarte, a deslindar-se de seu último corpo de carne em 1967 – também não o conheci pessoalmente, portanto.


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