Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Bela dama sem cortejo, segue você, vida afora, qual lírio encantado sem colibri que a beije… Sente-se só, abandonada, angustiada pela sensação de desamparo e rejeição.

Todavia, pergunto-lhe: você deseja mesmo, de coração, sair da solidão? Quero dizer: pretende, verdadeiramente, deixar de viver sozinha, nas condições que lhe são apresentadas? É por falta de alternativas em seu caminho, ou porque tem padrões altos de exigência, que a protegem de eventuais experiências nefastas? Se você realmente quiser, sabe que pode ter o que almeja. Mas não talvez da forma que idealiza, e é essa a razão que a faz resistente à abertura.

De fato, não pretendo endossar sua escolha pelo isolamento, o que dificilmente você também consideraria desejável e saudável. Entretanto, sugiro a iniciativa pragmática de extrair o máximo de benefícios dessa sua situação extraordinária, dure muito ou pouco tempo.

Invista em você mesma. Não perca tempo em tristezas vãs. Comece cursos novos, desenvolva ignotas habilidades, ofícios ou funções. Realize seus sonhos de juventude, que, com pouquíssima probabilidade, teria tempo e oportunidade de concretizar, se estivesse acompanhada. Enfim, seja você mesma, em plenitude, a caminho da totalização de seu ser multidimensional.

Você não precisará permanecer sozinha por toda a vida. Será sempre opção sua manter ou não a condição de solidão provisória. Contudo, antes de buscar se completar com alguém, seja você totalmente. Você não precisa de complementos e sim de companhia. Quando assumir plena estatura de dignidade ante si própria, poderá, então, atrair o parceiro certo, à altura de suas necessidades e aspirações mais nobres. Enquanto isso não ocorrer – a realização essencial de se sentir autônoma, auto-suficiente e feliz consigo mesma, independentemente de qualquer coisa, situação ou pessoa que esteja ao seu lado –, atrairá sempre parceiros inadequados, sofrendo inutilmente e desperdiçando grandes oportunidades de aprendizado e crescimento.

A mulher fez grandes conquistas, no transcurso deste século, adquirindo liberdades d’antes inteiramente inimagináveis. Aproveite-as, sem buscar a fuga ilusória do Complexo de Cinderela (*), esperando que alguém – um macho da espécie – venha lhe tirar de sua torre de marfim.

Agora, porém, que o sexo fraco se converte em sexo forte, adaptando-se muito mais rapidamente às transformações da modernidade que o seu par oposto, cabe às mulheres se responsabilizarem muito mais que os homens, pelas mudanças condutoras à Nova Era de paz em que a humanidade adentra. Isso porque é mais responsável quem se faz mais preparado, maduro e lúcido. E, na Terra, indubitavelmente, por ora, a maior parte do contingente feminino está mais receptiva aos ideais e paradigmas da nova civilização que surge do que a maioria do gênero masculino da espécie.

Com isso, mais do que uma mera sugestão de engajamento político-partidário ou um manifesto de militância feminista, proponho a todas as consciências hoje portadoras de corpos de mulher que valorizem sua invejável condição, já que está nas mãos do Feminino, em todas as suas acepções, a responsabilidade pela salvação e transmutação da espécie humana, em algo que em muito transcenderá as limitadas expressões de egolatria e materialismo dos dias que correm.

Assim, se você está sozinha, não se lamurie, qual lagarta que se rasteja, viscosa, no chão duro e frio. Seja, sim, muito pelo contrário, como a libélula que voa a velocidades superiores aos 60km horários, apesar de sua estrutura frágil e delicada. Em cotejo com os patos pesados, encharcados na lagoa do patriarcalismo e seus padrões anacrônicos de pensamento e conduta, que mal conseguem levantar vôo, carregados dos preconceitos e valores incompatíveis com os novos tempos, as libélulas, que não parecem, de modo algum, fazer frente a seus parceiros voadores, em porte e peso, são, sim, muito mais aptas a voar rápido, voar longe, voar alto… muito alto…

Aprisionaram-nos, por séculos de séculos, ao cativeiro da opressão. Agora, chegou a hora da revanche… a revanche do amor. Com a força da bondade, do devotamento, da intuição refinada e da capacidade relacional que tão bem desenvolvemos, em milênios de submissão forçada, seremos nós a salvar o planeta, zelando por nossos filhos, todos eles, sem distinção – filhos nossos que são os homens (e não nossos rivais), carecedores de nossa ajuda, de nosso benquerer, de nosso perdão…

Nenhuma “vingança” histórica seria mais bem urdida. Tentaram nos calar; bradaremos o grito da libertação humana!…

Pugnaram por nos sufocar; somos agora o ar que renova a espécie humana!…

Fizeram tudo por nos depreciar; tornamo-nos o maior patrimônio da humanidade!…

Oprimiram-nos, no transcorrer de milênios ininterruptos – às vezes, até com a intenção de nos proteger –; agora, é a hora de retirarmos o jugo de ignorância e medo, orgulho e sanha assassina que a civilização do patriarcado criou, com todo o seu sistema de guerras, de confrontos, de violências ecológicas.

Chegou nossa vez, chegou a vez da humanidade, chegou a vez do amor, chegou a vez das mães… chegou, enfim, a vez da mulher, a vez da Feminilidade!…


(Texto recebido em 11 de abril de 2000.)

(*) Conceito cunhado por Colette Dowling, pensadora feminista norte-americana, em obra clássica do ramo, homônima.
(Nota do médium)