Benjamin Teixeira
pelo espírito
Henri.

Pela extensão e importância desta interessante mensagem psicofônica, os orientadores espirituais desencarnados decidiram por bem mantê-la, na interface deste site, por mais um dia, ficando assim exposta até as 24 h, fuso de Brasília, desta quarta-feira, 12 de maio.)

Nasci em Lion, a mesma cidade natal de Kardec, pouco depois da morte do grande mestre. Tornei-me espírita, ainda criança. Meus pais e avós conheceram Kardec pessoalmente. Meus pais – ainda na infância – e meus avós foram convertidos às hostes espíritas diretamente pelo próprio codificador.

Muito cedo (ainda não havia chegado plenamente à adolescência), as faculdades mediúnicas se me desabrocharam. Eu via e ouvia os espíritos com clareza impressionante, pois tinha o que se chamava, na época, de mediunidade sonambúlica. Perdia a consciência, sofria desmaios, caia na via pública e recebia espíritos de entes queridos de passantes ou de meus companheiros de passeio, ou, sem perder a consciência, ouvia vozes e via personalidades que outras pessoas não podiam notar. Na escola, percebia outros professores que não os mestres encarnados, via outras crianças que não estavam no mundo físico. Essas presenças invulgares conversavam comigo, às vezes me ajudavam a estudar, às vezes me atrapalhavam no cumprimento das tarefas escolares.

Comecei a trabalhar tecnicamente com a mediunidade, operando todas as semanas em nosso centro em Lion, ainda no meio da adolescência. No início, foi fácil, posso dizer – os confrades me estimulavam muito. De certa forma, idolatravam-me, pois eu era “um fenômeno”, um “gênio mediúnico”, ouvia e via os espíritos, recebia-os e falava por eles, como todos que eram espíritas queriam. Todavia, passado algum tempo, comecei a me sentir saturado, sobrecarregado, pressionado, estressado. As pessoas me procuravam a toda hora, queriam que eu respondesse a suas perguntas, resolvesse seus problemas, conversasse com os entes queridos desencarnados e consultar os mentores espirituais a respeito de tudo e nada. Nem sempre era fácil perceber os entes queridos dessas pessoas, nem sempre estavam em boa situação, nem sempre as notícias eram boas, como nem sempre era fácil ou mesmo possível contactar guias e benfeitores espirituais. Era tão difícil ser médium!… Eu sentia as energias dos encarnados e dos desencarnados, e os inimigos desencarnados dos a quem eu ajudava vinham atrás de mim, tomar satisfações e perturbavam-me deveras. Foi um “massacre” …

No final da minha casa dos 20 anos, conheci uma moça, me apaixonei e decidi me casar. Perguntei aos espíritos se poderia e eles me disseram que sim. Eu me casei, mas os problemas se acentuaram a partir daí, já que passei a me preocupar com a minha sobrevivência e a da minha esposa. Tive cinco filhos, o primeiro tendo morrido antes de completar cinco anos. Foi traumático – senti-me traído pelos espíritos: achei que eu, que me dedicava gratuitamente a servi-los, não poderia sofrer uma dor tão grande. Depois, tive mais outro filho… e mais outro, mais outro, porém vivos até a fase adulta, perduraram tão-somente sete (o que era um bom índice de sobrevivência à infância, para aquele tempo: 7/8). Os encargos profissionais e financeiros foram aumentando e também as preocupações com os filhos. Comecei a rarear as visitas ao centro a não mais atender às pessoas, com a freqüência e qualidade de antes. A mediunidade passara a me causar desconforto e eu dei para adoecer amiúde. Não queria mais saber de ser médium, achava um desastre ser canal do Além na Terra, um castigo. No trabalho, olhavam-me com desdém, como motivo de chacotas diversas. Vivia um verdadeiro inferno. No entanto, não era somente o pandemônio na vida social que me aturdia, mas, sobremaneira a preocupação de que, por tanta perseguição gratuita, pela minha condição de médium-espírita, pudesse também perder o emprego que tinha de escriturário. E se eu perdesse o emprego, como iria sustentar meus filhos? Não podia fazer caridade para os outros, enquanto precisava sobreviver e prover o sustento dos meus. Comecei a achar aquilo tudo muito incoerente. Estava cada vez mais difícil conciliar as duas vidas: a do vida do médium e espírita com a do profissional e pai.

Lembro-me, com clareza… Era meu aniversário de trinta e sete anos. Fiz uma prece muito fervorosa, que não era bem uma prece, mas um protesto, uma declaração de impotência e a comunicação de uma decisão. E os espíritos respeitaram meu livre-arbítrio. Terminada a reunião daquele dia (“coincidentemente”, era dia de reunião mediúnica), comuniquei aos circunstantes que, depois daquele dia, iria me afastar do centro e do exercício mediúnico, para viver minha vida e cuidar dos meus filhos que eram uma responsabilidade sagrada e minha prioridade, na condição de cidadão e homem de bem. Como estava parcialmente certo e apelava para temas sagrados como família e deveres de pai, ninguém teve muitos argumentos para apresentar contra, embora alguns ficassem um tanto indignados, enquanto outros apresentaram uma “cara de tragédia”. Lembro-me de um senhor, sexagenário, um homem nobre, que ficou transtornado, e com o dedo em riste, declarou-me que eu iria me arrepender seriamente, mais tarde, pela minha fuga ao dever espiritual.

Por que eu não dei ouvidos a ele? Achei-o arrogante, impertinente. Achei que ele estava sendo canal de meus inimigos desencarnados, que queriam que eu sofresse, sofresse, sofresse… Entrementes, em verdade, estava ele canalizando os meus mentores espirituais, pela via da inspiração. Como eu me arrependo, como me arrependo!!!! Por que eu não dei ouvidos àquele senhor de cãs brancas? Eu não dei voz à voz de Deus, que fazia uso de um meio não agradável ao meu ego – uma cobrança peremptória e uma acusação – mas que era o que fizera por merecer, em considerando as circunstâncias. Não dei ouvidos a uma pessoa que queria meu bem, já que nem se preocupara em passar por ruim.

Ao sair de lá, senti-me muito mal. Achava que sofria o efeito de impregnações deletérias, com as energias de raiva e de egoísmo dos meus confrades, que queriam que eu ficasse ali “servindo a vida toda, de graça”, mas, na realidade, já estava com a consciência em culpa e já estava, outrossim, mais vulnerável ao ataque dos meus inimigos desencarnados, porque a maior parte da poderosa proteção espiritual que eu recebia, em função do gigantismo da tarefa, foi retirada de mim, naquele dia, pois que eu havia descido um grau nas minhas responsabilidades existenciais. Voltei para casa, com uma parte de mim sentindo um alívio grande, enquanto uma outra sentia um peso estranho. Eu não soube ler aquele “peso”, na minha alma, como um aviso de que eu havia tomado o rumo errado. Eu podia ter voltado atrás, ainda estava em tempo. Por que, meu Deus, eu me permiti uma coisa dessas? Eu poderia ter persistido!

Os anos se passaram. Acho que até fui um bom pai, mas havia deixado para trás uma enormidade de compromissos com a espiritualidade e com meu centro espírita em Lion. Desencarnei com a consciência flamejante de culpa. Sofri de uma doença degenerativa por mais de três anos, que me consumiu em dores alucinantes na cama, já que não existia anestesia na época. Essas dores cruciantes só me faziam lembrar de meus compromissos abandonados. Por que, Deus eu não me dei conta de que os meus mentores não me apareciam mais? Eu só ouvia as gargalhadas estridentes dos obsessores zombeteiros. Por que não deduzi, de pronto, que tinha tomado o rumo errado? Para falar francamente, tentei até voltar atrás e recuperar o tempo perdido, quase dez anos depois. Não sei ao certo o que me fez lembrar do compromisso abandonado. Comuniquei à minha esposa que iria voltar ao Centro e ao ministério mediúnico… E minha companheira teve um surto histérico, me ameaçou deixar só com meus filhos, me relegar ao desamparo. Acovardei-me e desisti. Alguns de meus filhos ainda eram crianças e falou mais alto a voz da conveniência, do interesse pessoal, do egoísmo. Como me arrependo de ter abandonado os meus mentores espirituais e pensar mais em mim do que na causa espírita!

Eu pedi para vir aqui falar com vocês, para contar minha estória, apresentar meu depoimento, oferecer-lhes meu testemunho pessoal. Eu queria dizer a vocês que não há dor maior do que esse remorso de poder ter feito o bem a tantas pessoas e ter largado tudo de mão, por questões tão mesquinhas, tão pequenas, como as egóicas sempre são. Quando desencarnei, enfrentei a face ensombrecida dos meus mentores. Olhar baixo, que evitava cruzar o meu. E o olhar do meu pai espiritual (*1), que depois de algum tempo de conversa, me mostrou a extensão dos débitos em que eu e ele havíamos contraído… Eu não havia incorrido sozinho nesse débito, tinha arrastado junto comigo o meu pai espiritual. Por Deus!!!, eu preferiria a caldeira mais profunda do inferno a ver meu pai endividado por minha causa. Meu mentor, que havia subscrito, ele mesmo endossado minha encarnação: eu o havia comprometido. Que dor na alma que deu! Uma ferida aberta no coração… Fui tão relapso, pequeno e infantil. Porém, agora não adianta mais; eu tenho que esperar uma nova oportunidade. Disseram-me que vou reencarnar, mas não no Brasil, como a expressiva maioria dos médiuns de minha encarnação na França vieram para o Brasil, a terra da promissão espiritual. Aqui é fácil ser médium hoje. Embora haja muitas tentações ainda ao abandono do desígnio divino à mediunidade, o movimento espírita é gigantesco entre vocês. Eu terei que reencarnar na Europa mais uma vez. Na própria França que assistiu ao teatro da minha deserção espetacular. E não vou ter o apoio que eu tive na França do século XIX, a França-espírita, como vocês tem aqui o apoio do Brasil espírita (*2). Eu vou ter que remar contra a maré. Vou ser tentado, azucrinado, dia e noite, com a tentação de me afastar da determinação divina para mim. Não vou poder me casar e terei que viver só, porque sabem como eu sofro a sedução do egoísmo pessoal. Viverei pobre, doente e sozinho. Atormentado pelos meus obsessores, e apenas de vez em quando ouvindo a voz dos mentores. Disseram-me que não vai ser fácil exercer minha mediunidade desta vez, pois eu apenas vou ouvir os espíritos, não vou mais vê-los, nem recebê-los ou falar por eles, como antes. Vão providenciar deficiências específicas em meu cérebro próximo cérebro físico, para que não manifeste a plenitude de minhas aptidões mediúnicas. Eu francamente não sei como vou vencer, mas me disseram que é uma necessidade evolutiva e cármica que eu tenho. Pesa, sobre os ombros de minh’alma, uma “dívida” ciclópica com a Espiritualidade e com Deus, e não tenho outra alternativa, senão aceitar esse compromisso amaro.

Estou bem perto de reencarnar. Menos de cinco anos. Talvez nos vejamos, quem sabe (?). Disseram-me que irei conhecer, pessoalmente, o médium através do qual eu falo agora. Espero que eu possa realmente aproveitar todos os ensejos de crescimento e realização espirituais que me serão ofertados; e, dessa vez, com encargos redobrados.

Queria dizer que muitos são como vocês, médiuns ostensivos ou inspirados, mas que se afastam da causa espírita, que é um tesouro inaquilatável. Não há psicologia profunda nem psicologia transpessoal, nem estudos de pesquisas de TVP (*3), nem experiências de comunicação por aparelhos eletrônicos que se comparem à excelência, à profundidade, à abrangência do Espiritismo. A psicologia, bem como os instrumentais de pesquisa científica, constituem ferramentas excelentes de estudo, mas somente o Espiritismo tem respostas completas ou ao menos razoáveis, para os grandes enigmas da vida. Essa pérola filosófica tem que ser levada adiante, para outros povos, desnorteados, desesperados, no materialismo-consumismo-niilista asfixiante.

Fiquem alerta (*4) contra as seduções falaciosas do Lado Contra! Todos são importantes nessa causa do Cristo; na causa coletiva e intemporal de significado e relevância inconcebíveis para vocês encarnados que o Espiritismo representa. Só daqui, do plano espiritual, nós podemos ter uma vaga noção da importância do grande sistema de idéias, salvando almas do suicídio e da loucura, em seus mais variados tipos e graus de expressão, principalmente os camuflados e indiretos. Queria dizer a vocês, nessa época em que a vaga sinistra de um ecumenismo pseudo-avançado sugere aos espíritas que são eles retrógrados, que não acreditem nessa mentira. O Espiritismo sempre foi ecumênico, sempre respeitou as outras definições de fé. Vivam plenamente os seus compromissos com o Plano Superior e agradeçam a Deus esta dádiva inapreciável de estarem sob a égide da grande “doutrina” libertadora, que vai um dia salvar a humanidade do precipício, da destruição.

Cabe a vocês levar adiante essa mensagem e esquecerem bloqueios, auto-limitações e neuroses, olharem para frente e perceberem que representam a Deus e a Jesus, muito embora portando fraquezas e deficiências inúmeras e extensas, são embaixadores do Plano maior, encarnados no plano físico de vida. Coloquem de lado seus interesses pessoais e mesquinhos e não façam como eu, pois a dor conseqüente à fuga de compromissos espirituais é grande demais para que possa ser traduzida em palavras. Não esperem passar pelo que eu passei e terem que esperar cento e cinqüenta ou duzentos anos para repararem uma dor que eu não desejaria por um dia ao meu pior inimigo. Não esperem descobrir, tarde demais, que receberam, nas próprias mãos, uma dádiva direta de Deus e que jogaram fora, para chorarem, amargamente, sem remissão, anos sucessivos, contemplando, nas pessoas mais amadas e em multidões anônimas, dores em cadeia infinita, que poderiam ter sido confortadas ou mesmo evitadas, se não incorressem no gesto irresponsável e criminoso da fuga ao dever essencial da alma, que é servir a Deus e ao próximo, fazendo uso de todos os dons, os talentos que o Criador lhes concedeu, incluindo, entre esses, a mediunidade.

Despeço-me, esperando que a minha fala simplória cale fundo em seus corações, não apenas hoje, que estão sob o calor das emoções, mas que de fato vocês se comprometam, profundamente, em seus corações, com esse ideal luzidio e subido. Reforcem hoje os seus compromissos com o Espiritismo, pois ele irá salvar não só vocês, mas todos nós, a Terra inteira e a humanidade toda da auto-extinção.

Com vocês, espírita “kardecista” com orgulho, desencarnado, médium desertor arrasado em remorsos, seu irmão em ideal e amigo,

Henri.

(Esta mensagem foi recebida psicofonicamente – método psíquico de comunicação vulgarmente conhecido por “incorporação” -, pelo médium Benjamin Teixeira, em reunião mediúnica fechada, no Centro do Projeto Salto Quântico, no dia 4 de maio de 2004, gravado e transcrito por Paulo Ricardo Feitosa.)

(*1) Pais de vidas remotas, quando com substancial vantagem evolutiva, podem se candidatar e, de fato, tornarem-se guias espirituais de seus rebentos de antanho.

(*2) No final do século XIX, havia mais de um milhão de espíritas confessos na França e uma multidão oceânica de simpatizantes, em fenômeno de dimensão semelhante ao que ocorre hoje no Brasil.

(*3) “Terapia de Vidas Passadas”.

(*4) Embora soe muito estranho, a palavra “alerta”, assim como os verbos “ter” e “haver”, quando significam existir, não flexionam para o plural. Ah… essa nossa língua Portuguesa…
Não resisti tocar nesse assunto, apesar de, pela produção às pressas (só reviso os artigos uma única vez, após psicografar, sozinho, e muitas vezes à alta hora da madrugada – são, por exemplo, agora, 3:22 h da madrugada, fuso Brasília, desta terça-feira 11 de maio -, quando a eficiência mental já não vai lá a tantas…), muitos errinhos apareçam nas mensagens diárias de nosso site. Não creio que deva deixar de publicá-los, por causa disso; no meu entender constituiria uma vaidade fútil, bloqueando um trabalho de caráter essencial: levar a mensagem espiritual adiante, apesar de termos o dever de ter todos os cuidados com a forma que o conteúdo espiritual precisa ter, à sua altura, no mínimo. Parto do pressuposto que os leitores são inteligentes e que darão um desconto ao “tradutor psíquico” sobrecarregado com um trabalho que tem braços por todo o país e fora dele. Por outro lado, agradeço àqueles que desejarem fazer apontamentos do gênero, quando notarem falhas na construção fraseológica ou mesmo na gramática e na ortografia de nossos textos mediúnicos, a fim de que possamos proceder à devida correção. Essas falhas são de exclusiva responsabilidade do médium, já que a comunicação dos mentores espirituais tem que se submeter aos trâmites idiossincráticos (incluindo os viciosos) da mente mediúnica.

(Notas do Médium)