(Entrevistando Benjamin Teixeira – 02.)

Benjamin Teixeira
e Equipe Salto Quântico.

(Equipe Salto Quântico) – Prezado Benjamin, o que você diz das hipocrisias a respeito do que se considera ser espiritual?

(Benjamin Teixeira) – As religiões esvaziam-se não só por falhas das doutrinas religiosas, muito dogmáticas para os tempos modernos, mas também pelos preconceitos da população (em boa parcela, motivados por ignorância), acerca do que seja o processo e a busca da vivência genuinamente espiritual, sobremaneira em dois campos temáticos (não por acaso, exatamente as duas maiores feridas da espécie humana na atualidade): sexo e dinheiro.

Com relação ao dinheiro, vemos, por um lado, os que pretendem se locupletar com a boa-fé alheia; e, por outro, os que visam, consciente ou inconscientemente, criar uma aura de santidade em torno de si mesmos, por uma pseudogratuidade de suas realizações (pagas com a moeda luminosa da vaidade), tornando as tarefas importantíssimas, que lhes foram confiadas por Deus, menores e empobrecidas, pela falta de recursos financeiros para aprimorá-las e expandi-las: uma total falta de responsabilidade, de que terão que prestar contas, ao retornarem à pátria espiritual.

No campo sexual, acontece um verdadeiro festival de loucura, ignorância e delírio: celibato compulsório de sacerdotes, homossexualidade abominada em quase toda parte, virgindade obrigatória antes do casamento, divórcio proibido por várias denominações cristãs – não saberia por onde começar a enumeração de tamanha sequência de estultícias, reconhecidas como total absurdo por qualquer pessoa medianamente esclarecida.

Lembro-me de um caso curioso de um amigo em Aracaju, que bem ilustra o nível de surto a que os indivíduos ser permitem chegar, neste campo de patologias complexas. Este sujeito foi condenado por ser um líder religioso e gay resolvido (e não enrustido, nos desequilíbrios tão conhecidos dos que se oprimem), tendo abordado frequentadores de sua congregação, a verificar se alguém estaria disposto a entretecer, com ele, relacionamento íntimo de ordem séria, e não meramente casual, de aventura erótica. Ora, ele mesmo pregava, do púlpito, com base em estudos científicos, que os locais certos para procurar partidos ao casamento não eram boates, bares, shows ou festas públicas, como se costuma supor apropriado, mas sim igrejas, ambientes acadêmicos e profissionais. As pessoas se deliciavam quando ele apresentava tal parecer, gargalhando a plenos pulmões. Mas uma delas, furiosa quando descobriu que o guru era homossexual e não poderia ser seu futuro marido, juntou-se a outra figura, que o invejava pela oratória brilhante, e resolveu-se por espalhar o boato, com muita agressividade, de que ele “assediava os frequentadores da Casa”. Isso é, tão-só, hipocrisia. Por que tudo mudou de figura apenas por ser ele gay? Por que muitos dos que achavam supermoderna e apropriada sua iniciativa de sugerir que os condiscípulos se observassem como potenciais parceiros afetivos ali mesmo, no seio de uma instituição séria, de caráter familiar e espiritual, e não em ambientes de caça sexual, modificaram a opinião a seu respeito, apenas por descobri-lo homossexual? Entristecido e revoltado com a hipocrisia dos faladores, desabafou o amigo: “Vivo para o trabalho de Deus, dia e noite. Os que me atacaram estariam por acaso propondo que, no sábado à noite, eu vestisse uma camiseta de malha apertada e fosse sacudir o corpo em uma boate gay, em vez de dar continuidade às minhas tarefas de socorro à multidão?” Minha resposta a ele foi que a fronteira entre ética e antiética costuma estar condicionada a interesses de grupos e pessoas, e que o que importava era a intenção, a voz da consciência, os sentimentos dos envolvidos no drama em questão, nos dois lados, porque vítimas e algozes, quase sempre, aparecem em lugares trocados.

O curioso, contou-me este amigo – o que considerei a parte mais interessante de seu relato –, é que os que aceitaram o “falatório”, como pecha de condenação à sua pessoa, afastando-se da congregação por ele dirigida, eram exatamente os que tinham moral duvidosa. Mulheres sustentando relacionamentos com homens casados; homicidas assumidos; sexomaníacos; pedófilos; homossexuais enrustidos que lutam por manter a reputação de heterossexuais, todos tratados com carinho e tolerância pelo inspirado palestrante, foram os que resolveram participar do mexerico, dando uma repercussão proporcional à sua própria desonestidade e inconsciência sobre si mesmos.

Em contrapartida, os remanescentes à “bomba” foram os que, inteligentes, maduros e coerentes, percebendo a má-fé de quem se juntou à campanha nefanda, decidiram permanecer no grupo, por, lucidamente, não esperarem encontrar um santo em seu líder espiritual, e sim um ser humano como eles próprios, com o desejo sincero de evoluir, com realismo e honestidade. Aqueles que procuram santos ou iluminados, para segui-los, normalmente portam falhas de caráter, ou, ao menos, personalidade com graves problemas e conflitos íntimos, como foi o caso dos que se deixaram levar pelo boato, apesar da boa índole: mulheres que pretendiam passar por bons partidos, ao molde social do tabu da virgindade coercitiva, para conseguirem maridos de “status”; homens que não souberam enfrentar a histeria falsa de suas consortes, dispostas até mesmo a greve de sexo para manobrarem sua saída do grupo (porque, em verdade, desejavam seduzir o líder religioso, e depois abandoná-los), etc.

(ESQ) – Nossa, Benjamin! Isso é muito duro! Falando dessa forma, não teme chocar as pessoas?

(BT) – Choco, sim, os hipócritas, os mascarados que, como no episódio em foco, preferem viver de aparências. Qualquer pessoa de bom senso e minimamente instruída compreende o acerto de minhas palavras. Apenas, por uma questão de conveniência, a maior parte delas prefere não ostentar publicamente tais opiniões, para não confrontarem justamente esses dragões da falsidade humana, que ainda são senhores quase absolutos das rodas sociais. Jesus, Modelo Máximo de Espiritualidade para todos nós, era bem mais enérgico com os hipócritas, denominando-os de “sepulcros caiados – brancos por fora, cheios de podridão e rapina por dentro” (Mateus, 23:27). E essas exigências mesquinhas e mentirosas são tão fortes em relação a religiosos, que os líderes espirituais que fazem ares de santos – embora obviamente isso constitua uma fraude – são mais respeitados que os que assumem sua humanidade e não se incomodam de ferir preconceitos. Não temo, assim, escandalizar gente que não tenha caráter. A sociedade está cansada dos psicotipos que constroem as redes de corrupção e indecência, em todos os departamentos e níveis de nossas comunidades. A era das grandes hipocrisias está, com câmeras de vídeo espalhadas por toda parte, muito perto de chegar ao fim…

Para os que ainda sentirem minhas palavras e argumentos um tanto ásperos – o que compreendo –, sugiro leiam a pérola de sabedoria, dignidade e transcendência, exatamente sobre a temática, da nossa sábia e santa mestra Eugênia, num espetáculo de cultura evangélica, respaldando todo o seu pensamento em falas de Nosso Senhor Jesus e Seus mais diretos Epígonos (os Apóstolos), o artigo intitulado:“Guarda Divina”, publicado neste site, em 8 de outubro de 2008.


(Entrevista concedida em 7 de maio de 2009. Revisão de Delano Mothé.)