(Entrevista com Benjamin Teixeira sobre os vinte anos de seu exercício da mediunidade.)

Em seu próximo circuito de conferências nos Estados Unidos (o que vem realizando anualmente, desde 1996), a acontecer nos últimos dias de novembro e primeiros de dezembro deste ano – périplo organizado por Marcone Vieira (que fundou, no mesmo ’96, a pedido do adorável espírito Eugênia, o centro espírita “Caminho da Luz”, em Danbury, Connecticut), e que já conta com três Estados confirmados (Connecticut, Massachusetts e New Jersey) e mais um nos últimos acertos (New York) –, Benjamin Teixeira abrirá a seqüência de preleções com uma palestra sobre os vinte anos de convívio mediúnico com sua mentora espiritual, a serem completados em 2008, que em breve adentraremos. Convidado a nos ceder uma entrevista a respeito, nosso líder, de boa mente, acedeu. Segue-se.

(Equipe Salto Quântico) – Benjamin, como tem sido manter-se há vinte anos em convívio praticamente contínuo com Eugênia?

(Benjamin Teixeira) – Importante ressaltar que não foi um convívio propriamente ininterrupto. Nos primeiros três anos, a grande mestra desencarnada aparecia-me muito esporadicamente, e se me afigurava uma espécie de musa mirífica de uma região inacessível do Empíreo. Para dar uma idéia disso, a primeira vez que ela se me configurou às percepções mediúnicas, estávamos em julho de 1988; a segunda ocorreu apenas em abril de 1989. Ou seja: nove meses separaram a primeira da segunda oportunidade em que a contactei, psiquicamente, na atual reencarnação. A partir de 1991, os encontros passaram a se dar semanalmente, e, tão-só em 1994, tornaram-se diários, para a psicografia de mensagens de ordem coletiva – em sua maioria, arquivadas para posterior publicação, o que não chegou a acontecer ainda. Foi nesta fase que começaram a surgir as primeiras missivas de caráter pessoal, contendo dados que fugiam ao meu conhecimento, fato que me foi muito relevante, reforçando minha convicção de que se tratava, realmente, de uma fonte de informações externa ao meu cérebro. Por mais nítida que Eugênia me espocasse à psicovidência, temia tratar-se de uma alucinação visual, típica às psicoses, facilmente tratáveis com psicofármacos da categoria dos antipsicóticos. Tais epístolas íntimas se amiudaram, no correr dos anos, até se tornarem diárias, por volta de meados de 2001. Somente, porém, em 2005, meu sinal mediúnico tornou-se suficientemente amadurecido, e as falhas de filtragem passaram a ser raríssimas.

(ESQ) – Falhas de sinal mediúnico?

(BT) – Sim, ou como se fala no meio espírita (conforme citei anteriormente): “falhas de filtragem mediúnica”. Em outras palavras: erros na recepção do pensamento das entidades comunicantes – o que, por princípio, é impossível evitar-se de todo. Foi um dos maiores desafios, para meu trabalho com Eugênia, conviver com os equívocos na captação do que ela pretendia dizer – sobremaneira por ser muito alta sua vibração, e, no início de meu exercício mediúnico, eu ter enfrentado muita dificuldade em lhe alcançar o padrão de onda mental. Desde o princípio desta década de 2000, o que coincidiu praticamente com a entrada do programa em rede nacional de televisão – em 2001 (não por acaso: precisava ter uma comunicação melhor com os chefes da Dimensão Superior de Vida) –, minha mediunidade ganhou um fabuloso incremento no quesito precisão. Todavia, foi o ano de 2005 que marcou, para minha atividade como porta-voz da santa-sábia, o começo de uma era de incrível segurança na recepção mediúnica. A propósito, senti uma substancial melhoria, neste sentido, no decorrer de 2007, em particular desde abril (quando lançamos  o programa em rede pela CNT – claro que, mais uma vez, não à toa). Sempre houve um progressivo processo de melhoria na qualidade do sinal mediúnico (prefiro dizer assim, fazendo uma reportação metafórica ao “sinal de TV” analógica – que às vezes sofre interferências de estática, etc. –, para facilitar o entendimento aos não-médiuns-ostensivos), mas, sem dúvida, certos momentos são críticos para o alargamento e refinamento das percepções psíquicas.

(ESQ) – Há um motivo para isso?

(BT) – Dor moral aguda… o que não me faltou, num trabalho em que sofro expressiva e constante pressão mental, há dois decênios, por parte de milhares de encarnados e desencarnados, seja por contrariar os interesses de muitos, seja por não corresponder às expectativas de outros tantos que confundem um mero refletor da Luz com a própria Luz.

(ESQ) – Que desafios e óbices você considera tenham sido importantes, além desta questão das dificuldades com o sinal mediúnico?

(BT) – As obsessões, por um lado, e, em oposição a elas, a natureza superior da psique e da conduta de Eugênia. Uma curiosa ironia: minhas maiores dificuldades estiveram em lidar com o muito inferior e, no outro pólo, com o sublime, o sobre-humano, no trabalho de relação com a faixa espiritual de vida.

(ESQ) – Pode nos explicar isso ou dar exemplos, para que compreendamos melhor?

(BT) – A obsessão é uma constante, assim como ocorre aos nossos corpos físicos, que sofrem o ataque contínuo de patógenos microorgânicos, a nos oferecerem desafio contínuo ao sistema imunológico. Tenho que laborar em meio a uma saraivada de ondas mentais discrepantes entre si, muitas delas francamente deletérias, provenientes dos dois grandes domínios de vida inteligente (o dos encarnados e o dos desencarnados), que intentam, voluntária ou involuntariamente, por um processo de ressonância, desestabilizar-me o alinhamento com o próprio eixo consciencial, atrapalhando ou, quiçá, impedindo-o, alinhamento este imprescindível a quem pretende sintonizar e canalizar, com segurança, a fala dos Imortais. Perceber as inúmeras sutilezas deste processo, sobremaneira nos primeiros anos de minhas atividades mediúnicas, quando havia acabado de adentrar a casa de vinte anos, foi extremamente difícil.

Quanto ao nível mental de Eugênia, posso dizer que, em sua relação comigo, ela funciona como uma mestra e não uma professora – foi a melhor forma que encontrei para traduzir a curiosa e avançada metodologia de ensino da sábia-santa. Em outras palavras, quando ela diz alguma coisa, não necessariamente está afirmando: pode estar provocando, perguntando, testando, sem deixar claro, em cada momento, o que faz e por que faz. Tudo para não me tomar, qual o fazem os seres de escol, o lugar na banca (*) evolutiva que me cabe, na condição de ser muito imperfeito, da mesma forma que um professor consciencioso não responde os deveres de casa para um aluno, mas deixa-o cometer seus erros, a fim de que adquira experiência com eles e possa, posteriormente, acertar com segurança e mérito próprios.

Para apresentar um exemplo desta atitude eugeniana, vou relatar a última das ocorrências em que fui “surpreendido”, digamos assim, pela filosofia educacional da mentora espiritual. O sinal mediúnico estava excelente (sem interferências psíquicas de vulto), conversava com ela há um bom tempo, quando me lembrei de certa iniciativa que supunha apropriado tomar. Havia deixado o assunto “de molho”, por julgá-lo delicado e ter algumas dúvidas quanto à propriedade ou não de desdobrá-lo. Eugênia, magnificamente clara às minhas percepções psíquicas, à grega, sorriso sereno… foi um pulo para que me resolvesse, então, por lhe interrogar quanto ao que seria mais adequado, para me desfazer o dilema. Seria muito difícil que resistisse à tentação de consultá-la, sabendo ser ela quem é, uma entidade infinitamente superior em intelectualidade e sentimento. Muito à vontade, como quem está diante de uma mãe, a despeito do respeito e veneração por seu status evolutivo, sem procurar muito medir as palavras e os conceitos que expendia, implicados na indagação, sentindo-me já inclinado à ação, perguntei-lhe:

– Eugênia, que acha você? Posso fazer isso?

Sem alterar o sorriso sereno, a mentora fez um gesto afirmativo com a cabeça, e respondeu, lacônica:

– Sim, pode.

Envolvido por minhas próprias impressões a respeito da temática, nem cheguei a estranhar a resposta monossilábica de Eugênia, que é dada a tecer considerações que fundamentem, filosófica, moral e pragmaticamente, seus pontos de vista. O fato é que tentei realizar o que pretendia, mas a idéia não se mostrou interessante, criando-me mesmo algum desconforto. Claro que iria indagar à mestra sobre o motivo de me haver endossado a iniciativa, pois que, com absoluta segurança, ela teria como antecipar o desdobramento dos acontecimentos. Questionada sobre sua resposta, disse ela, no mesmo tom tranqüilo de sabedoria majestosa, quão despretensiosa:

– Eu lhe disse que poderia fazer, não que convinha. Sempre que me fizer perguntas a respeito do que, pelo livre gozo de seu bom senso, na avaliação judiciosa e ponderada da situação, puder chegar a conclusões apropriadas sozinho, recusar-me-ei a antecipar resultados ou articular pareceres.

Com a repreensão tão elegante quanto firme da filósofa desencarnada, fiz breve reavaliação do quesito em foco, e facilmente concluí quanto à total inadequação do que eu houvera definido como opção de atitude. De fato, um pouco mais de ponderação me teria revelado o que esperava ter obtido diretamente do guia espiritual.

É certo que, de uma forma geral e na maior parte das ocasiões, em vez de me lançar uma resposta que, em verdade, constitua uma charada, como neste episódio, Eugênia alerta-me, se não diretamente, por meio de perguntas sucessivas, ajudando-me a raciocinar com mais clareza e propriedade. Mas sempre me “pune”, da forma como expus agora, quando fico um pouquinho viciado em procurá-la para o que não cabe a uma orientadora espiritual (que não pode substituir a consciência individual, nos dizeres dela mesma), de modo a não amolentar meu juízo de valor, meu exercício de discernimento e escolha pessoais.

Hoje, experiências que tais me causam admiração maior pela condição superior de sabedoria da mestra. Mas, em 1999, quando, pela primeira vez, ela agiu assim comigo, fiquei completamente confuso, custando-me um dia inteiro de mal-estar. Na mais forte de todas essas vivências com a face “mestra” da santa amabilíssima, em 2004, cheguei a brigar seriamente com ela, irritadíssimo. Já pensou que falta de juízo? Não fica absurdo e impraticável, todavia, compreender-me a reação intempestiva, quando se considera que minha relação com o guia espiritual, desde 1994, segue o padrão simbólico do convívio íntimo com uma mãe muito sábia e santa… mas, ainda assim, uma mãe… E a gente sempre perde o juízo e diz asneiras a figuras de mães, quando é muito aborrecido por elas, não é mesmo? (risos) Elas nos deixam sempre bastante à vontade, com a garantia inamovível de seu amor. Seres como Eugênia, porém, diferentemente das mães humanas normais, apenas desaparecem, nestas circunstâncias, e silenciam, respeitando-nos o livre-arbítrio, ainda que usado de modo tresloucado. De 2005 para cá, contudo, aprendi a falar com ela o estritamente necessário, tanto quanto, ironicamente, vivencio, hoje, um excelente canal de comunicação mediúnica, quase sem falhas.

(ESQ) – Teria algo a dizer mais sobre o assunto?

(BT) – Que não tenho qualquer merecimento para conviver, ainda que à distância, pela ligação psíquica, com um ser da envergadura evolutiva de Eugênia, e que somente a dimensão ciclópica de responsabilidades, com o trabalho de conduzir almas a Deus, aos milhares, pela televisão, justifica o contato contínuo daquela que, há dois mil e quinhentos anos, foi Aspásia de Mileto, mestra de Sócrates. Sinto-me a mais vil, desprezível e patética dentre as criaturas, sempre que volto dos encontros com a fabulosa mestra grega ou tão-somente me lembro de suas virtudes e lucidez impolutas, mas de modo algum esta imagem de insignificância pessoal me causa qualquer sentimento de desagrado, porque é natural que reconheça a enorme, abissal distância evolutiva que nos separa, ou estaria completamente fora do senso. Apenas me entristeço, sofro um forte abatimento de ordem moral, toda vez que reflito mais detidamente sobre esta disparidade gritante em termos de padrão evolucional, entre mim e a sábia grega, não por me sentir inferior, mas por não ser melhor como pessoa, por ter consciência de que ela mereceria uma alma santa e uma mente de sábio para canalizá-la no mundo – e, muito dolorosamente, tenho plena consciência de estar bem longe de sê-lo. Isso, sem dúvida, dói-me muito ao coração. Entretanto, por isso mesmo, estou sempre me esforçando, em hábitos diários de vigilância e oração, em medidas que caberiam a monges enclausurados, a fim de, tanto quanto possível, não só burilar minha muito limitada e defeituosa personalidade, como favorecer o mínimo possível de interferências de minha psique no pensamento, que canalizo para o plano material, da ilustre filósofa e mestra do domínio espiritual de Vida.

(ESQ) – Obrigado, Benjamin.

(BT) – Todo louvor e gratidão sejam transferidos a ela, que, em nome da Espiritualidade Superior, misericordiosamente tem-nos oferecido as pérolas de sua inteligência luminosa e de seu coração santo.

(Entrevista concedida em 24 de outubro de 2007. Revisão de Delano Mothé.)

(*) “Banca” – palavra utilizada na acepção rara e clássica de mesa ou carteira de estudos.
(Nota do Médium)


Permanência no ar, como “mensagem do dia”:

Ultrapassando o teto estipulado de dez mil caracteres (mais de 13 mil), este artigo figurará durante dois dias (sábado e domingo), neste ícone “Mensagem do Dia”.