(Cap. 5, do Tomo 1, de “Maria Cristo”)

Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia-Aspásia.

 

Um comprometimento espiritual sério, profundo e duradouro, por pacificar a própria vida e se tornar um agente disseminador da paz, por onde estiver, com quem estiver, no que fizer.

Há milênios se vem pedindo ao ser humano que se pacifique, que busque a sabedoria e o amor universal, que se una a Deus, pela prece ou pela meditação, que procure ser fraterno ou ao menos justo com seus irmãos em humanidade e com os seres “inferiores” (menos desenvolvidos) da natureza. Todavia, “a passos de tartaruga” progredindo neste sentido – a história bem tem mostrado – arrastam-se as criaturas e comunidades entre guerras, calamidades e outras desgraças de ordem coletiva, como individual, quase todas engendradas pela iniqüidade humana.

A questão, porém, é que, n’outros tempos, em lutas diretas, corpo a corpo, e com o arsenal primitivo da tecnologia bélica de antanho, não havia riscos graves de extinção da espécie, como agora. Havendo potencial hoje para a destruição da Terra, por pelo menos cinco vezes, com os estoques de armas nucleares agora existentes (e com riscos concretos outros, como o da utilização de armas químicas e biológicas facilmente confeccionáveis em laboratórios de quintal), não se pode mais tratar desses assuntos de modo sugestivo. Deve-se encará-los de modo resolutivo e mesmo imperioso, já que se trata, nesta quadra crítica da história da civilização humana no planeta, de uma urgentíssima e gritante necessidade de sobrevivência, que não se pode negligenciar, sob risco de pormos a nau da biosfera terrestre a pique, juntamente ao empreendimento do gênero humano sobre o globo.

Como atingir este “desideratum” (desiderato) supremo?

Vamos traduzir, em linguagem moderna, os conceitos espirituais que têm sido expendidos, com pequenas variações, por luminares, fundadores de religiões, estudiosos de teologia e moral, há dezenas de séculos, em termos, atrevida mas necessariamente, resumidos:

1) Amor. Não há vida sem interdependência. As criaturas vivem em cadeias alimentares complexas, que, rompidas, comprometem todo o sistema de sobrevivência, sobretudo os que estão no topo destas redes, como o ser humano. Por outro lado, a nossa espécie vive em comunidades (hoje estendida à comunidade global) de tal modo interligadas que não se pode imaginar qualquer tipo de ataque a um ponto da rede, sem que se afete toda a teia – com uma teia de implicações para o conjunto. O amor, assim, se não como rasgos profundos de altruísmo e ternura sinceros, ou de postulações espirituais ou religiosas genuínas, deve existir como princípio de sobrevivência de todos e de cada um, em particular. Cuidar do outro é cuidar de si. Ignorar tal princípio da mais estrita lógica constitui atitude suicida… e genocida.

2) Perdão. Embora possa ser considerado sub-item do item anterior, é de tal modo importante, que aqui (apesar do nosso enorme foco na síntese) o colocamos à parte, para que se possa assimilá-lo mais profundamente. É fácil compreender que temos que cuidar de quem cuida de nós. Isso é lógica relacional das mais elementares. O problema, entretanto, que nos faz agora balouçar ante a goela sanguissedenta do abismo, é que esta percepção costuma ser rasteira, e só se enxergam as ligações de troca e cooperação num nível direto e imediato de favor obviamente recebido ou permutado, sem se dar conta, normalmente, das relações profundas que há entre todos os seres da criação – e entre todos os homens – ainda que com os mais repulsivos ou odientos. Por sinal, é este o busílis da sobrevivência planetária: ou incluímos todos na humanidade, ou nos excluiremos a todos. O surto em massa de fanatismo homicida e genocida da atualidade nos dá uma clara idéia da urgência inconteste de aplicação e disseminação efetiva deste princípio. Todos respiramos o mesmo ar no planeta (*) e estamos firmados, quando encarnados, na mesma “bola” de terra flutuante no espaço sideral. Não querendo, aqui, endossar posturas de conivência com o mal e de relaxamento para com a sanha assassina dos inconscientes, não é possível, entrementes, compreender-se a vida em sociedade, sem mútua tolerância, já que todos, na Terra, sobremaneira entre os encarnados, têm longa ficha de deficiências (isso apenas considerando a presente existência, sem sequer levarmos em conta a extensíssima linha de crimes hediondos que variados de nós trazemos de pretérito longínquo). Sem a capacidade de esquecer, relevar e conviver pacificamente com aqueles que nos ferem volta-e-meia (já que também ferimos os outros sem sequer percebermos muitas vezes), é inviável a realização de qualquer projeto de sobrevivência, coletiva ou individual. É justamente por falta de tolerância à diferença que as civilizações ocidental e oriental (vamos adotar aqui esta conceituação moderna da crise internacional) se enfrentam, atualmente, sem perspectivas imediatas de solução do impasse. Sem recíproco entendimento e fraternidade universal, não será executável a continuidade do projeto humano sobre a crosta o planeta. E, duma ótica pessoal e até egóica: perdoar é inteligente e prático, já que quem é libertado pelo processo do perdão é o próprio ente que perdoa e não o seu objeto de perdão. Pode-se, perfeitmente, discordar da atitude errado, sem se envolver o outro e, principalmente a si mesmo, nas tóxicas emanações psíquicas do ódio. Não perdoar é vingar-se, em si mesmo (e não no objeto de aversão), pelo mal que já foi feito e tido por injusto, por outrem, através de todos os mal-estares decorrentes do rancor, a começar pela perda da felicidade e pelo mal-trato e perda de entes queridos e oportunidades de realização pessoal, e terminando em conseqüências a longo prazo desastrosas, como o surgimento de cânceres. Quem perdoa pode, inclusive, ser enérgico, na sua e na defesa do que ou de quem pretende proteger, e isto de modo algum implicar uma única partícula de mágoa. Perdoar, assim, não é concordar com o ato indevido de outrem, nem renunciar a combater seus efeitos, mas não se deixar envenenar pela maldade ou limitação alheios, no intuito inteligente e maduro de preservar o próprio bem-estar.

3) Serenidade e Confiança. O auto-domínio, que decorre da auto-confiança e da postura psicológica serena, é um valor unanimemente aclamado, até entre os profitentes desatinados do ateísmo, como signo de superioridade moral e mesmo intelectual de um indivíduo. No entanto, sem fé genuína e vivida em Deus, não é possível paciência, longanimidade e, principalmente, o amor fraterno, incondicional e irrestrito (quanto possível) entre as criaturas. A tranqüilidade em meio a crises, a superação do estresse, da ansiedade, do medo – naturalmente são alcançados, quando se está realmente convicto de que tudo é supervisionado por um Poder soberanamente Justo e Bom. Sem a confiança na proteção e Providência divinas, facilmente o ser humano se engolfa de pavor, desespero e revolta. O medo e o ódio (como mecanismo de defesa ao primeiro) passam a ser as notas dominantes da vida mental da criatura, que rebaixa todo o seu potencial de sabedoria e de vivência mística a lamentáveis espetáculos de degradação para um nível sub-animal de comportamento e de emoção.

4) Oração. Não é possível viver a fé que carreia tais serenidade, fraternidade e indulgência, sem a prática de consorciar-se, psiquicamente, todos os dias, com o Criador e Seus Emissários, por meio da prática da prece e/ou da meditação. Ao menos por quinze minutos – meia hora ou uma hora por dia (o ideal) – o indivíduo deve se dedicar à oração ou a outras técnicas e práticas meditativas, no início de suas atividades diárias: visualizar a Luz Divina, conversar com o Criador, mentalizar a figura da Mãe Divina, de Jesus ou de qualquer luminar do passado humano – o método fica ao critério de cada qual. Mas, sobre isso em particular, falaremos mais detidamente, no capítulo seguinte, já que adentra, justamente, no campo do segundo item de cooperação que Maria propõe a você.


(*) Eugênia se coloca entre nós, no plano físico, para dar um efeito mais impactante ao que fala. Em termos metafóricos, porém, sua assertiva se aplica a ela também, por pertencer à humanidade terrícola, em seu domínio espiritual.
(Nota do Médium)