por Benjamin Teixeira

Convidado (com o que nos sentimos honrado e agradecido), pela equipe editorial do Cinform, para, entre vinte especialistas, ofertar o parecer, da perspectiva da Espiritualidade, a respeito do que se poderia propor, como itens de mudança-melhoria à Cidade de Aracaju – por ocasião da efeméride de seu natalício –, aqui estamos, em consórcio com o Sábio e Santo Espírito Eugênia, que escreve este despretensioso artigo, em plena parceria conosco, numa quase perfeita psicografia, embora nos mantenhamos consciente e senhor de nossos atos, para aquiescer ou não às idéias que Ela nos sugere digitar.

Espiritualidade – em uma de suas mais profundas e apropriadas acepções – significa consciência de propósito, visão teleológica, busca e vivência de um significado dentro da existência do indivíduo, em função de um contexto maior, que envolva não só a coletividade, como também valores intemporais, transcendentes (o que o psiquiatra e psicanalista suíço Carl Gustav Jung intitularia “numinoso”), sejam os concernentes ao que se entende, em Psicologia Profunda, por “arquétipos” do “inconsciente coletivo”, sejam os que se relacionam ao que, em Psicologia Transpessoal e em Parapsicologia, denomina-se, respectivamente, de “Inteligências do Plano Transpessoal de Consciência” e “agentes psiteta”. A Neuroteologia – a mais moderna ramificação das neurociências – assevera que regiões inteiras da neurofisiologia humana, como o lóbulo temporal direito (alcunhado pelo neurocientista e pediatra norte-americano Dr. Melvin Morse de “The God’s Spot”) e o lóbulo parietal esquerdo, são particularmente vinculadas a experiências místicas, como a escuta de vozes espirituais ou a percepção de unidade com o universo. Em outras palavras: seria da própria natureza do cérebro produzir a vivência espiritual ou mística, de uma tal maneira inexorável, que só se nos apresentam duas alternativas, ante o reconhecimento desta realidade, por assim dizer, física: ou fazemos escolhas conscientes, neste particular, ou somos propelidos a degringolar tal função psíquica, para uma sua degradação, nas diversas idolatrias e fanatismos disfarçados de ideologias ou compulsões, que se convertem em simulacros de “religiões particulares” de indivíduos perdidos de si mesmos: a fixação em dinheiro, sexo, poder, etc.

Assim, apesar da preciosidade do espaço, não há como apresentarmos fórmulas mágicas, para o que tem consumido séculos de história e milhões de anos de evolução filogenética. Foquemos, entrementes, a eliminação de uma quimera: não se modifica uma civilização, não se altera uma sociedade sem, primeiramente, acrisolarem-se, substancial e definitivamente, os indivíduos que a compõem, pelo que exortamos a cada um dos leitores – sendo ou não adeptos deste ou daquele partido de crença, ou, como nós, desvencilhados de quaisquer veleidades de sectarismo religioso – faça o esforço interno de sintonia com patamares mais altos de consciência, pelo empenho em se disciplinar nos sentimentos e no exercício da solidariedade cristã, propugnada pelo Nosso Mestre Comum, Jesus Cristo, bem como pela mobilização dos recursos de influência social que lhe estejam ao alcance, para que se “contagiem” outras pessoas, num fenômeno correlato (em nível de excelência, todavia) ao de “contaminação mental” (primitivo), compreendido e denominado, pelo antropólogo francês Lucien Lévy-Bruhl, de “participation mystique”.

Não há nada de estrambótico ou abstruso nestas conjecturas – embora o palavreado e conceituação menos usuais talvez dêem a entender. Tão-só nos atenhamos ao que a essência de todas as religiões e religiofilosofias nos apresenta – o que o egrégio visionário escritor britânico Aldous Huxley chamou de “Filosofia Perene”, em obra homônima seminal de sua autoria (utilizando a expressão do filósofo e matemático alemão Gottfried Wilhelm Leibniz): a vivência plena do amor, em todas as suas formas possíveis de manifestação. De nossa parte, incluiremos mais dois itens, duas disciplinas que viabilizam esta obra que parece inexeqüível, por se afigurar sobre-humana: 1) a prática diária da oração ou meditação e 2) a freqüência semanal a um culto coletivo de busca de Deus, não importando a linha religiosa escolhida. Estes dois métodos universais, segundo temos percebido, constituem um binômio-pedra-angular para que se possa edificar uma experiência mística de qualidade, duradoura, transformadora e, por isso, com potencial a desencadear, por efeito dominó, no seio das comunidades, uma epidemia de amor, otimismo e esperança, harmonia, paz e felicidade – verbete este que, não por acaso, é derivado da expressão latina “fe licitas”, que, literalmente, significa “fé verdadeira”…


(Texto redigido em 11 de março de 2009. Revisão de Delano Mothé.)


Esclarecimento
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Este artigo foi publicado em caderno especial do jornal Cinform, em homenagem ao natalício de Aracaju, na edição impressa desta segunda-feira, 16 de março de 2009. Como o feriado de hoje, 17 de março, é apenas municipal, em função do aniversário de nossa cidade, achamos por bem trazê-lo a lume neste site, pela profundidade e sabedoria extraordinárias nele expressas, justamente nesta data de comemoração.