Por Delano Mothé.

A dor da ausência é descompassada
galopa do peito rumo aos olhos
convertendo-se em lágrima.
Caudalosa é sua fonte,
que só se esgota, supõe-se,
em nova presença.

Quando a perda se torna sentença
que se impõe à esperança,
latejam os galopes contidos em vão.
O choro agora é interno
e o pranto goteja do coração.

Meu Deus, o que é isto aqui dentro?
que implosão interminável é esta no peito?
Por que tanto abalo sem alento?…

Terremoto amainado
pelas forças mesmas do tempo,
posso ver quanto havia em minh’alma
a romper, desatar, ruir…
renovar, medrar, florir…

É do amor, em essência,
o alastrar-se indistinto.
Coagulá-lo em um só ninho,
exclusivo, malsão, mesquinho,
pouco a pouco o confina
em compacta sina:
bomba-relógio feraz
incrustada em meu ventre,
imperiosa, ardente, voraz,
a irromper em gatilho iminente.

Tectônicas placas
de verdades pequenas
abalaram-me o tino,
em benigno sismo.
Sob ventos viris,
elevei mil velames,
decifrando convites,
desbravando limites…
Propulsão a singrar
o mais vasto alto-mar.

Amar alto, ousar…
espraiar-se ao além-mar…
Horizontes sem-fim
a espocar, alargar, fulgir,
fecundando o porvir.

Quão ridentes ensejos
de ignotos enlevos
acalentam a existência!?…
Todo parto anuncia
novo ser, transcendência…
Toda dor que corrige,
toda lágrima que irriga,
toda súplica que eleva
é portal que liberta, emancipa,
enobrece e transborda em mais dita

Oh! Nascente Divina
de inauditas venturas,
a brotar cristalina
no imo das criaturas!
Geratriz progressiva,
borbulhar das Alturas,
que alimenta, depura
incansável, perdura…
e no labor felicita!…
A Vida em sua faina infinita…

(Poema composto a partir de ideia inicial – três primeiras estrofes – originalmente concebida em janeiro de 1998, com desdobramentos e acabamento atuais, conclusos em 19 de abril de 2012. Aproveitamos mais este ensejo para reiterar nossa profunda gratidão à misericordiosa inspiração dos Mestres Espirituais do Instituto Salto Quântico (a Quem devemos todos os eventuais créditos deste serviço que ora pretendemos prestar), bem como à devoção-exemplo de nosso Educador-Sacerdote encarnado, Benjamin Teixeira de Aguiar, desdobrada em perseverante ministério de amor e serviço ao Bem comum.)